NOSSO SOLO TEM VALOR: UM PIAUÍ DE RIQUEZAS NATURAIS
- Francicleiton Cardoso
- há 5 horas
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Bruno Casanova revela o enorme potencial do subsolo piauiense e a transformação do setor mineral com inovação e sustentabilidade

OPiauí está escavando mais do que solo: está revelando um novo capítulo em sua história econômica, energética e social. Com um potencial mineral ainda em grande parte inexplorado, o estado se firma como protagonista de uma mineração moderna, conectada à transição energética global e ancorada em sustentabilidade, inovação e desenvolvimento humano. Em entrevista exclusiva à Revista Sapiência, Bruno Casanova Cerullo, superintendente de Mineração e Energias Renováveis (SUMER)da Secertaria do Planejamento do Estado do Piauí, revela os bastidores dessa virada de chave: da valorização da opala à busca por minerais estratégicos como níquel e cobalto, da capacitação de jovens piauienses à articulação com universidades e energias renováveis.
Muito mais do que números e volumes, esse avanço sinaliza uma transformação de paradigma: da mineração rudimentar para um setor moderno, tecnificado, articulado com políticas públicas e compromissos ambientais. Com 21% do território já impactado positivamente pelas atividades minerais e uma diversidade que vai da opala ao grafite, do níquel ao fosfato, o Piauí revela um subsolo que pulsa oportunidades econômicas, sociais e científicas.
A mineração que desponta no Piauí não é apenas extrativista — ela é construtiva. Fomentar cadeias produtivas locais, promover a verticalização da produção, gerar empregos de qualidade e integrar jovens a um mercado que exige formação técnica são metas que apontam para uma mineração de um novo tipo: mais inteligente, mais verde e mais conectada ao futuro.
Com uma estimativa de produção de mais de 1 milhão de toneladas de minério de ferro em 2025 e políticas públicas em estruturação, o subsolo do Piauí é fértil para um futuro mais verde, tecnológico e inclusivo. Nesta conversa, Bruno nos guia por esse território de oportunidades e reforça: “a mineração responsável entende que o solo tem valor, mas o que está acima dele tem vida”.
Revista Sapiência: Bruno, quando você pensa no subsolo piauiense, o que enxerga além da terra?
Bruno Casanova: Quando penso no subsolo, enxergo muita riqueza, potencial energético, e muita oportunidade. O estado tem uma diversidade mineral enorme, desde argila, calcário e brita, até minerais estratégicos que estão no centro da transição energética, como níquel e cobalto.
Isso significa que estamos falando de gerar emprego, atrair investimento e colocar o Piauí no mapa da nova economia verde, conectada com energia limpa, indústria e mineração responsável.
E mais: boa parte dessas riquezas ainda está pouco mapeada e explorada, o que mostra que nós temos muito a crescer com planejamento e estudo.
Então, além de camadas de terra, vejo um caminho promissor, com capacidade de transformar realidades locais e de fazer o Piauí ser referência em mineração moderna e sustentável.
Revista Sapiência: A opala é a “queridinha” dos minerais piauienses, mas o Piauí é mais do que isso? Que outros minerais nos contam histórias escondidas?
Bruno Casanova: A opala realmente é a nossa “queridinha”, e com razão: é um mineral único, de rara beleza, e que colocou o Piauí, especialmente Pedro II, no mapa das gemas preciosas do Brasil e do mundo.
Mas o estado vai muito além disso, por exemplo, temos níquel e cobalto, que são fundamentais para baterias e tecnologias de energia limpa. Temos fosfato, que é base para fertilizantes e pode impulsionar o agronegócio. Também temos ferro, manganês, grafite, calcário e argilas industriais.
Então sim, a opala é um orgulho, mas ela é só a porta de entrada. O que está por baixo do solo piauiense pode contar muitas outras histórias que ainda estão para ser descobertas e bem aproveitadas.
Revista Sapiência: Muita gente pensa em mineração como coisa do passado. Como o Piauí está atualizando esse setor para o século XXI?
Bruno Casanova: É verdade que, para muitos, a mineração se relaciona com métodos rudimentares e impactos ambientais descontrolados. No entanto, o Piauí tem se posicionado para modernizar e impulsionar seu setor mineral no século XXI, buscando alinhar a atividade extrativa com as demandas de sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento econômico.
O Piauí está se consolidando como um polo estratégico na mineração brasileira, não apenas pelo minério de ferro (com alto teor de ferro, especialmente na região de Piripiri, que facilita o processamento e reduz o impacto ambiental), mas também por ter reservas de níquel, manganês e fosfato.
Há projetos promissores para a exploração de níquel (como o Projeto Níquel Piauí da Brazilian Nickel), que é um mineral estratégico para a fabricação de baterias, veículos elétricos e energias renováveis.
Além disso, o estado tem potencial para água subterrânea, calcário (essencial para cimento e agricultura), diabásio e a famosa opala de Pedro II, que já é um mineral de destaque no mercado de joias.
A Superintendência de Mineração e Energias Renováveis da Secretaria Estadual de Planejamento (SEPLAN) foi criada para consolidar políticas públicas em sustentabilidade e inovação no setor. Com isso, tem-se investido na criação de políticas públicas voltadas para pesquisa, aproveitamento residual do minério, sustentabilidade e desenvolvimento social. Um projeto de lei da mineração estadual está sendo elaborado para estruturar essa política.
A Ferrovia Transnordestina e o Porto de Luís Correia são infraestruturas cruciais que estão sendo desenvolvidas e que prometem alavancar a exportação de minérios do Piauí, tornando a logística mais eficiente e competitiva. Isso reduz custos e, indiretamente, pode diminuir a pegada de carbono do transporte.
Os centros de tecnologias como o CETAM (Centro de Tecnologia em Artes Minerais) apoia a inovação e a qualidade, especialmente na produção de opalas, integrando o projeto de Arranjo Produtivo Local (APL) que qualifica profissionais do garimpo em lapidação.
Enfim, o Piauí está trabalhando para desmistificar a imagem antiga da mineração e posicionar o setor como uma atividade moderna, estratégica e sustentável, capaz de gerar valor econômico e social, ao mesmo tempo em que se preocupa com a preservação ambiental e o bem-estar das comunidades.
Revista Sapiência: Você fala muito em mineração com responsabilidade ambiental. O que isso significa na prática? Dá para crescer sem impactar negativamente?
Bruno Casanova: Falar em mineração com responsabilidade ambiental não é somente uma fala, é uma necessidade. Na prática, isso significa planejar bem antes de começar a explorar, escolher métodos de extração e tecnologias menos impactantes, monitorar os impactos gerados, mitigar e recuperar as áreas depois da lavra e, principalmente, respeitar os limites ambientais e sociais do território.
E sim, dá pra crescer minimizando os impactos negativos. O segredo está em fazer mineração com inteligência e compromisso, aproveitando melhor os recursos, reutilizando rejeitos, geração de energia renovável e a recuperação de áreas degradadas.
No fim das contas, a mineração responsável é aquela que entende que o solo tem valor, mas que acima dele existem pessoas, uma biodiversidade imensa. É com esse equilíbrio que permite a gente avançar sem deixar um rastro de prejuízos.
Revista Sapiência: A nova política estadual de mineração inclui incentivos à capacitação profissional. Como isso muda a realidade de jovens piauienses?
Bruno Casanova: Essa nova política de incentivo à captação profissional muda muita coisa, principalmente para quem é jovem e está começando a carreira aqui no Piauí. A mineração moderna precisa de gente qualificada em áreas como meio ambiente, geotecnologia, engenharia, química, segurança, TI, logística entre outros.
Com os investimentos que o estado está atraindo, na área de mineração, surge uma demanda, e isso abre caminho para o jovem piauiense ficar no seu território e crescer com ele, ao invés de precisar sair para buscar oportunidades em outras localidades. A mineração é percebida como integrante de um sistema de desenvolvimento que abrange a educação em todos os níveis, do técnico ao universitário.
Segundo o estudo do SGB/CPRM (2024), o setor mineral no Piauí já movimenta centenas de milhões de reais por ano, e tem potencial para crescer até 12% ao ano até 2040, com destaque para minerais ligados à transição energética e economia verde. Isso significa mais empregos qualificados, com formação técnica, e mais desenvolvimento local com responsabilidade.
Revista Sapiência: Como a SEPLAN e a SUMER estão articulando a mineração com as energias renováveis? Parece improvável, mas há mais pontos em comum do que se imagina?
Bruno Casanova: A Secretaria/Superintendência tem promovido uma integração inovadora entre mineração e energias renováveis.
A SUMER, criada em abril 2024, tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável, mitigação de impactos ambientais e mediação de conflitos sociais no setor de mineração. Além disso, está desenvolvendo políticas públicas para ampliar o acesso à energia para micro, pequenos e médios produtores, fortalecendo a implantação de obras estruturantes no estado. A SEPLAN, por sua vez, tem promovido discussões sobre mineração e desenvolvimento sustentável, buscando alinhar o Piauí às diretrizes do Plano Nacional de Mineração e garantir que o estado seja marcado por um ambiente regulatório atrativo e competitivo.
Essa integração entre mineração e energias renováveis tem gerado oportunidades de investimento e desenvolvimento econômico no estado.
Além disso, o Piauí tem se destacado no cenário nacional como uma das novas fronteiras para o desenvolvimento sustentável e a atração de investimentos em energia renovável, combinando recursos naturais abundantes, ambiente regulatório favorável e políticas públicas. Portanto, a colaboração da Secretaria tem sido fundamental para posicionar o Piauí como referência em energia limpa e inovação sustentável, promovendo o desenvolvimento econômico e social do estado.
Revista Sapiência: Você tem falado em parcerias com universidades, como a UESPI. O que a academia tem a oferecer para esse “novo Piauí mineral”?
Bruno Casanova: A academia é fundamental por trazer o conhecimento técnico-científico, a pesquisa de ponta e a capacidade de formação de recursos humanos qualificados.
Elas podem nos auxiliar na identificação de novos depósitos minerais, no desenvolvimento de tecnologias de extração mais eficientes e sustentáveis, na avaliação de impactos ambientais e no desenvolvimento de programas de recuperação.
Revista Sapiência: Como a juventude piauiense pode se envolver com esse setor? Que caminhos alguém de Pedro II, pode seguir para ser parte dessa transformação?
Bruno Casanova: A juventude tem um papel importante, pela busca da formação técnica e superior nas áreas aqui mencionadas, envolver-se em projetos de pesquisa e extensão nas universidades, ou até mesmo empreender, buscando soluções inovadoras para os desafios do setor.
Em cidades como Pedro II, onde há forte presença de mineração, através da opala, a juventude pode ser a força motriz para a inovação, trazendo novas ideias e talentos para alavancar o desenvolvimento local.
Revista Sapiência: Se você pudesse deixar uma mensagem para um(a) estudante curioso(a) sobre o que está por vir na mineração do Piauí, qual seria?
Bruno Casanova: Eu diria que o futuro da mineração no Piauí é promissor e desafiador. É um setor em plena transformação, que exige curiosidade, inovação e um forte compromisso com a sustentabilidade.
Se você se interessa por ciência e tecnologia, a mineração oferece um campo vasto para aprender, criar e fazer a diferença. As possibilidades são infinitas, e o Piauí precisa do seu talento para construir essa nova realidade.
Revista Sapiência: Por fim, como a Ciência impacta hoje o fazer da SUMER e como estão planejadas as ações baseadas nessas evidências científicas?
Bruno Casanova: Nossas ações para desenvolver a política pública do Estado, são planejadas com base em estudos técnicos, relatórios científicos e as melhores práticas globais, garantindo que o desenvolvimento mineral do Piauí seja feito de forma inteligente eficiente e, acima de tudo, responsável.∎
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