A professora doutora e ambientalista, Elisabeth Mary, conversou com a Sapiência sobre os impactos ambientais no mundo, acerca das questões que envolvem a pandemia de Covid-19, que se espalha pelo mundo há mais de 2 anos
Falar sobre os impactos ambientais não é uma tarefa fácil, principalmente quando o objetivo principal é reduzir todos os tipos de poluição que existem hoje no mundo. Após o decreto da pandemia de Covid-19, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no início de março de 2020, pode-se verificar uma diminuição significativa da emissão de gases na atmosfera, como, por exemplo, Dióxido e Monóxido de carbono. Para Elisabeth Mary, essa diminuição foi causada a partir da diminuição de fluxo de pessoas, ocasionado pelo lockdown, além da diminuição do fluxo de transportes pelas cidades. O ser humano tem de repensar a sua forma de se relacionar com a natureza, e desse modo, reduzir os impactos ambientais ocasionados pela ação humana, destaca Elisabeth. Elisabeth defende que a Educação ambiental é uma construção de hábitos, valores, em relação a sua relação com a natureza. Contudo, a partir de sua perspectiva, as pessoas não conseguem compreender isso, e apenas categorizam a educação ambiental como uma disciplina. Ela também defende os princípios dos "cinco Rs" na coleta de lixo: reciclar, reutilizar, reaproveitar, repensar, recusar e reduzir. Educação ambiental é construção de hábitos, valores, em relação a sua relação com a natureza.
Sapiência – Como podemos pensar em um futuro a partir da dimensão do desenvolvimento sustentável, dessa dimensão social, da vida saudável, da harmonia com a natureza?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - A sociedade de forma geral não tem como viver sem o uso dos recursos naturais, isso não seria possível. Para que possamos alcançar o desenvolvimento sustentável que para muitas pessoas ainda é utópico, ainda é um sonho que não se alcança, ainda que já tenha avançado tanto em termos de utilização dos recursos naturais e em termos de legislação ambiental, ainda é uma coisa que para muitas pessoas, até para estudiosos é uma coisa inalcançável. Então, eu penso que a melhor maneira de encontrarmos essa possibilidade dessa harmonia com a natureza é de nós seres humanos nós, enquanto população, enquanto sociedade, repensarmos os modos de produção, repensarmos nossos hábitos, costumes e nossa próprias forma de tratamento com a natureza, da compreensão e do respeito da dinâmica natural, muitas vezes parte somente de uma pequena parcela. Eu costumo observar principalmente quando vou trabalhar com os nossos alunos em sala de aula e com a população de forma geral, ainda existe uma falta de aprofundamento na compreensão do que seja meio ambiente, no que seja essa relação harmoniosa com a natureza. Então, acredito que o caminho seja esse, de repensarmos os modos de produção, rever nossos hábitos de consumo e para isso nós precisaríamos investir em educação, além da escola, pois educação não se faz só dentro da educação formal, mas construindo um processo educativo que envolva todos com o mesmo propósito que é viver melhor, mas para viver melhor temos que viver em harmonia com o ambiente que nos sustenta, que nos possibilita existir.
Sapiência – Em matéria de desenvolvimento sustentável e geoconservação, como você avalia o Piauí, nós estamos a frente dando exemplo para outros estados ou estamos atrasados?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Em relação, por exemplo ao desenvolvimento sustentável eu não posso falar pelo estado como um todo, pois acho muito complicado definir o que é bom exemplo e mau exemplo, pois depende do ponto de vista de cada um, mas eu vejo algumas coisas pois eu conheço o Piauí todo em viagens mas não conheço de estudos, a minha concentração de estudos é mais no litoral. Mas, o que eu observo nas viagens conversando com alunos e professores, nas oportunidades que eu já tive, é que temos algumas iniciativas interessantes que conseguem prover uma relação mais harmoniosa com o ambiente, mas também tem, infelizmente, ações que são mais degradantes do que impulsionam algo positivo, então eu vejo de certa forma com alguma preocupação. Em alguns aspectos não estamos indo no caminho que deveríamos ir, em outros aspectos estamos. Por exemplo, o que falamos de geoconservação, em termos de conceito, em termos de desenvolvimento ainda é recente no Brasil. No Piauí, ainda é mais recente. Não o uso do recurso natural, não o uso da geodiversidade, mas o uso do termo geoconservação, esse processo de geoconservação é uma coisa mais recente. Eu vejo com preocupação os processos de degradação que são impostos no nosso litoral, o nosso litoral é muito pequeno, em termos de extensão, em face da dinâmica das regiões costeiras, com a interface com os oceanos, meio aquático, meio terrestre e a própria interface que geralmente todas as regiões litorâneas. Têm a entrada dos rios, e trazem os sedimentos do continente para oceano. Então, temos também interface entre a água salgada e a água doce o que vai trazer por exemplo o desenvolvimento dos manguezais, então, vemos com preocupação alguns aspectos que vão interferir na geodiversidade, biodiversidade e consequentemente vão interferir na vida da população. Pois, nós usamos esses espaços, os espaços costeiros são os espaços mais ocupados no mundo como um todo, então, eu vejo com certa preocupação. Não saberia explicar bons e maus exemplos, não gostaria de dar esse tipo de juízo de valor porque depende muito do ponto de vista, eu posso considerar um mau exemplo e outra pessoa de outra perspectiva pode considerar que não. Eu vejo com preocupação algumas situações que acontecem no nosso litoral, por exemplo: eu não tive acesso a estudos de impacto ambiental de algumas ações que acontecem no nosso litoral como a construção dos parques eólicos e a construção de recortes. Nós temos alguns elementos da geodiversidade do nosso litoral que foram pouco estudados, mas já temos estruturas humanas próximas ou até nessas áreas e isso é muito preocupante. Além da nossa forma de uso, tem os nossos turistas e visitantes, embora a pandemia tenha limitado os períodos de grande pressão sobre o litoral. Têm períodos que há muita atividade, então isso provoca muitas formas de degradação sobre a geodiversidade.
Sapiência – Não se tem conhecimento acerca da origem do vírus. Existe possibilidade de que o vírus tenha vindo de mercados de animais silvestres na China? Essa questão tem uma relação direta com a degradação que fazemos com o meio ambiente?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Em relação ao vírus em si eu já tenho ouvido alguns comentários, tenho sido questionada por alunos quando trabalho com a disciplina de biogeografia que analisa a distribuição dos seres vivos sobre os espaços geográficos e discutimos algumas questões sobre o surgimento de novas espécies, o surgimento da Covid-19 é uma questão que ainda vamos estudar. Quando falamos dessa possibilidade da alimentação, o que os seres humanos fazem em alguns locais do mundo com animais silvestres, é uma coisa muito complicada de analisar, pois é um aspecto cultural que vem da tradição, para algumas populações até milenares que vão bem além do tempo do Brasil, por exemplo. É muito complicado você dizer que não pode se alimentar de animais silvestres pois tem alguns vetores de doenças, eu já passei por algumas experiências de conversar com pessoas do interior, sabemos que no brasil tem uma legislação ambiental que proíbe o consumo de animais silvestres, mas como vou dizer para um pessoa que está passando fome que ela não pode comer? É uma situação muito difícil de analisar. Eu acredito que para todo processo de harmonia com a natureza parte da educação. Deve-se pensar em outros métodos, não apenas de convencer, pois a palavra conscientizar é inerente à própria pessoa. Ninguém conscientiza ninguém, se eu não quero me conscientizar eu não vou me conscientizar. Nos sensibilizamos às pessoas, mobilizamos as pessoas a repensar o seu modo de viver, o seu modo de se alimentar, mostrar para ela outras oportunidades, outras possibilidades para que as pessoas, individualmente, refletiam no coletivo, repensem e digam realmente: “eu poderia então substituir essa forma de alimentação para diminuir a pressão sobre o meio ambiente e os seres vivos e evitar riscos maiores para mim? A questão é que as pessoas as vezes não tem acesso a essa informação. As pessoas não têm acesso a educação no sentido não só da construção dos hábitos mas também da informação. Eu percebo, nesse momento da pandemia, o quanto está sendo importante o trabalho da mídia, de quem está à frente de informar a população. Infelizmente, a gente tem a desinformação que está sendo muito perigosa. Seria o ideal que nós pudéssemos evitar se alimentar desses seres que como estão na natureza. Nós seres humanos temos um potencial biótico diferente, temos um organismo diferenciado. Às vezes, esses animais não são benéficos para nós, mas algumas populações do mundo já estão habituadas, o seu organismo já se habituou. Então, quando esse hábito se dissemina para outros lugares, isso vai interferir no nosso metabolismo, então é perigoso. Essa é a preocupação com a origem do vírus da covid-19.
Sapiência – A moda é uma das indústrias que mais agride o meio ambiente, uma pesquisa recente aponta que ela é a segunda indústria que mais polui. Na quarentena, houve queda nesse mercado. Nós devemos repensar o consumo no nosso dia a dia?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Isso é uma coisa muito interessante. Meu filho me perguntou: por que a moda é a indústria que mais impacta o meio ambiente? Eu disse: vou lhe dar só um exemplo, a moda usa muita tintura, muito material para tingir e isso é lançado diretamente no recurso hídrico. Eu sei porque já vi fábricas fazendo isso. Eles usam tintura para modificar padronagem e todo material residual vai direto para a água e vai sem nem um tratamento para o rio. O que eu imagino em relação ao que aconteceu agora na pandemia, vejo que essa é uma oportunidade, e que pode até ter uma implicação futura na indústria da moda. A indústria também vai repensar suas formas de trabalhar e já existem empresas que estão trabalhando de forma diferenciada. Essa foi uma oportunidade que surgiu para nós enquanto sociedade, para revermos nossos hábitos de consumo exagerado, pois estamos consumindo o que está além da nossa necessidade. Se aprendermos a conviver com aquilo que nós precisamos e não com aquilo com o que desejamos ter, vamos conseguir encontrar uma forma melhor de se harmonizar e diminuir a pressão sobre os recursos naturais. Tudo o que compramos vem do recurso natural, tudo que está ao nosso redor desde o livro, a cerâmica, lâmpadas, fios, tudo que nós, seres humanos, construímos, tiramos do recurso natural. Ele é transformado pela indústria e chega na nossa mão em forma de produto. Aprendemos muito nessa pandemia. Como economizar e como fazer arranjos na própria roupa, pois não estamos podendo comprar roupas novas. A pandemia realmente nos deu essa oportunidade de repensarmos nossa forma de consumir e de pensar o que é mais importante para nós. Ter o que precisamos e não só o que desejamos. Aqui na minha residência, por exemplo, tivemos economias muito significativas em muitos aspectos. Dizer que a pandemia foi um bem, pelo amor de deus, quem vai dizer uma atrocidade dessas? Estamos todos loucos para poder voltar à nossa vida que antes achávamos que era normal, agora nem sabemos como vai ser, mas a pandemia nos trouxe algumas lições e uma delas foi essa de repensarmos nosso consumo.
Sapiência – No primeiro ano da pandemia de Covid-19, houve diminuição da atividade industrial e dos meios de transportes que ocasionaram uma redução considerável dos gases poluentes que contribuem para várias mudanças climáticas, e que são danosas para nós. Essa é uma oportunidade de avaliarmos nossos hábitos de consumo? Como devemos nos portar enquanto pessoas que dividem esse planeta?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Essa questão é bem interessante porque percebemos, não só esses exemplos, que muitos animais começaram a se sentir mais livres para circular, eles perceberam que não estavam tendo aquela ameaça constante da presença do ser humano, do barulho. A terra ficou silenciosa, nunca a terra ficou tão silenciosa como ficou agora por conta de estarmos em casa; dos transportes não estarem circulando, e isso, claro, diminuiu também as emissões dos gases que vão para atmosfera e que vão criando essas capas de CO2 que impedem até a visão. Isso demonstra para nós primeiro que a natureza tem uma grande capacidade de resiliência, de se repor, mas ela tem um limite para isso, e também que a natureza não precisa do ser humano para recomeçar sua dinâmica natural. Então, isso é importante para pensarmos se não seria o ideal recomeçarmos essa relação com natureza já que ela está demonstrando que o que estamos fazendo está interferindo significativamente na sua dinâmica a partir desses exemplos, coisas que não víamos e estamos voltando a ver. Por que que os peixes voltam? Porque a água deixou de ser turva. A água começou a ficar mais cristalina porque não havia mais poluentes entrando nela, não tinha mais elementos externos que estariam provocando essa poluição e impedindo os peixes de aparecerem lá. Então, essa é uma oportunidade que o ser humano tem de repensar a sua forma de se relacionar com a natureza, se relacionar com os recursos naturais e aprender a pesquisar, estudar e buscar; e aí a ciência entra com muita força no sentido de encontrar alternativas para os usos desses recursos naturais, encontrar formas alternativas de transporte, buscar transportes que sejam menos poluentes, que utilizem menos esses produtos. Temos muitas opções, mas infelizmente opções que ainda estão no processo inicial e que o custo ainda é muito elevado, e aí há pessoas que acham que esse custo elevado também faz parte dessa dinâmica e dessa política de “ah, não vamos investir porque se investirmos, quem produz o agente poluidor vai ficar no prejuízo”, mas que se com o tempo todo mundo entender a importância de utilizarmos esses recursos de forma melhor, todo mundo vai sair ganhando com isso: vamos sair ganhando enquanto população, enquanto sociedade, e vamos sair ganhando enquanto a gente permitir que a nossa natureza continue respirando naturalmente na sua dinâmica e que ela não deixe de viver a sua própria vida e também nos permita viver, pois temos que lembrar – e isso já foi até demonstrado em algumas versões cinematográficas, no imaginário do ser humano, que se acontecesse o desaparecimento da humanidade, a Terra continuaria. Mas se a Terra desaparecer, o ser humano vai desaparecer junto. É uma questão que eu costumo debater: eu não considero o ser humano parte do ambiente, considero o ser humano como meio ambiente, todos nós somos meio ambiente, todos nós somos natureza. Tem até um estudioso da geografia chamado Carlos Valter Porto Gonçalves, que tem um livro chamado ‘Os Dois Caminhos do Meio Ambiente’, em que ele diz assim: ‘O conceito de natureza não é natural. Por que? Porque todos nós somos seres humanos que nomeamos, que estudamos, que fazemos ciência, construímos o conhecimento.’ E esse conhecimento tem que estar ao nosso favor, mas para isso, temos que entender a dinâmica da natureza, respeitar essa dinâmica e aprender a conviver com ela. Então quando a gente interfere demais e a natureza responde forma abrupta, que nos leva até a perder vidas, além de bens materiais, ela também responde de forma positiva, demonstrando que essa nossa ausência temporária faz com que ela retome a sua dinâmica anterior, então isso é mais uma oportunidade de aprender com a natureza, porque aprendemos com ela todo dia.
Sapiência – Professora, sobre a origem da Covid-19, que é muito ligada a essa agressão ambiental: existem formas de se prever as epidemias e pandemias, não foi diferente com a Covid-19, ela foi alertada por infectologistas um tempo antes de acontecer, mas por conta da degradação natural, acabamos por sucumbir a essa situação. A pergunta em si é: de que forma isso poderia ter sido evitado? Se tivéssemos degradado menos a natureza isso poderia ter sido evitado?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Olha, eu não sei dizer se poderia ter evitado a pandemia, porque os vírus são seres vivos, considerados entre os mais complexos, também entre os mais simples, pela sua constituição. Ao mesmo tempo eles são complexos porque têm uma alta capacidade de duplicação. Muitos deles, incluindo o próprio coronavírus, têm uma capacidade enorme de mutação, isso faz com que eles sejam altamente resistentes. Então, existem inúmeras espécies de animais e vegetais que nós, seres humanos, ainda não conhecemos, e todo dia nós sabemos que espécies desaparecem e espécies surgem. Então ainda é uma incógnita, a ciência ainda vai ter que estudar muito, mas parte dessa situação que a gente vive, está relacionada também aos nossos hábitos de higiene, às condições sanitárias que nos colocam suscetíveis à disseminação desses vírus. Quando eu vejo os comentários de que isso já se previa, porque os nossos cientistas têm um potencial muito grande de análise sobre a possibilidade de disseminação desses vírus, eu entendo que nós precisamos ouvir mais a ciência e respeitar mais o conhecimento científico, nos preparar mais para o futuro. Eu não gostaria que acontecesse, mas eu acredito quando ouço os infectologistas do mundo inteiro dizerem que existe a possibilidade de ter outras pandemias. E as pandemias, se voltarmos um pouco na história, não terminam em um ano, tem pandemias que levam 3, 4, até 5 anos para poder se ter pelo menos uma perspectiva de controle desses seres, que costumamos chamar de nossos inimigos invisíveis, já que estão no ar, nas superfícies, nas gotículas respiratórias, não podemos ver. Então, eu vejo com preocupação essa questão da possibilidade futura de novas pandemias, mas infelizmente eu vejo também como uma probabilidade muito presente, a partir da confiança que temos na ciência, são estudos que mostram possibilidades reais. Acho que as sociedades e os governos do mundo inteiro precisam buscar novas políticas que ouçam mais a ciência e os especialistas. Claro, nós não podemos deixar de usar os recursos naturais, em momento nenhum dizemos que temos que deixar de usá-los, porque isso seria um tiro no pé e o fim da nossa existência, mas precisamos realmente repensar a forma de uso dessa natureza, e ouvir a ciência tanto no sentido do uso dos recursos naturais na indústria mas também no sentido da saúde e das medidas sanitárias. Seria muito importante termos essas pessoas envolvidas nos grupos de tomadas de decisões, para que possamos ter informações baseadas na ciência e nos estudos, porque são estudos que não são de 1 ou 2 anos, se leva 10, 15 anos para se realizar um estudo desses, para se chegar ao ponto de ir à público, como a OMS fez, e dizer que iremos enfrentar uma pandemia. Tudo que vem acontecendo mostra o quanto a ciência pesquisou corretamente, estamos vendo as projeções da doença a partir de estudos realizados, então acho que é preciso acreditar e valorizar os estudos científicos, porque são utilizados métodos muito rigorosos e só é publicado quando se tem uma margem de confiança acima de 50%. Acho que é nesse sentido que precisamos ir, para que possamos se preparar melhor para possíveis futuras pandemias que venham a acontecer.
Sapiência – Professora, sabemos que há um problema grave no litoral piauiense, principalmente naquilo que chamamos de um “novo litoral piauiense”. Quem vai para Barra Grande enfrenta de cara um problema visível, por exemplo, o problema da água, a menos que se hospede em um resort a água não será problema. Como você vê essa situação além de aglomerações nos litorais em meio a transmissão do vírus? E sobre o problema da gentrificação de Barra Grande?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Eu tenho uma preocupação muito grande com o nosso litoral. Não nasci no litoral, sou de Teresina, mas desde o meu primeiro contato com o oceano, a relação era muito harmoniosa. Tive uma infância toda baseada no convívio na praia do Coqueiro, na época não tinha energia elétrica nem água encanada, mas a relação era harmoniosa, me lembro de bem criancinha estar na praia às 5 da manhã para comprar o peixe direto do pescador. Então, vejo com muita preocupação por vários motivos: primeiro, pela extensão do nosso litoral. O nosso litoral é o menor do país, só tem 66 km de extensão linear, em função disso, quanto maior a pressão da população fazendo uso dos seus recursos, menor vai ser essa disponibilidade, é uma questão bem fácil de entender. Então, temos uma população em torno de 35 a 40 mil habitantes na região dos municípios costeiros e nesses municípios o que vemos: A própria questão da água nas regiões litorâneas de forma geral já é complicada em função da presença do oceano. Já sabemos que a interligação das reservas hídricas não se dá somente pela superfície, mas também pelo subterrâneo, então temos uma grande influência da água salgada sobre esses mananciais hídricos do continente. Então, há uma relação muito grande, se você perfurar um poço na beira da praia, imediatamente a água do oceano vai invadir. Vi isso na praia de Atalaia e fiquei horrorizada, perguntei: ‘porque estão perfurando um poço?’ ‘para trazer água doce para tomar banho’. Não tem como conseguir na beira da praia. É preciso se afastar bastante da margem do oceano para perfurar e fazer a canalização. Então isso é uma preocupação, já que não temos água de qualidade no litoral de forma geral, se você for tentar beber água da torneira que não seja tratada, você verá o teor de sal que é muito grande. Então geralmente nos litorais a melhor maneira de se ter água é trazendo do interior do continente para as pessoas, isso é uma coisa da dinâmica natural do ambiente. Aí se soma isso à pressão da quantidade de pessoas usando, mesmo tendo esse trabalho das adutoras e da canalização não conseguiremos sustentar uma população que é normalmente de 35 a 40 mil habitantes, pulando para 200 mil habitantes como tem às vezes nos feriados e período de férias. Eu não sei até que ponto as nossas instituições que lidam com essas questões vão conseguir dar sustentação a essa demanda. E não é só relacionado à água, existem outras preocupações também: em relação à alimentação, energia elétrica, etc., mas ninguém sobrevive sem água, então é uma grande preocupação. Então, essa entrada de empreendimentos sem o estudo mais aprofundado e participação da sociedade local, é um processo que vem realmente prejudicando o nosso litoral. Eu tenho muito medo de um dia chegar lá e não reconhecer mais o litoral do Piauí. Lá em 2007 eu levei meu orientador do doutorado para lá pela primeira vez, depois fui de novo em 2009. Quando ele esteve comigo em 2007, ele ficou muito admirado com a beleza do nosso litoral, porque Santa Catarina é totalmente diferente daqui. Ele ficou muito admirado com os espaços que tinham pouca interferência, em compensação, ele ficou muito triste quando chegou em alguns espaços com um excesso de interferência,. Já houve uma diferença considerável nas duas viagens, então eu me preocupo bastante. Há um empreendimento ao lado de um campo de arenito, que são as estruturas rochosas derivadas da movimentação do vento, que acaba por construir essas rochas chamadas arenito eólico, como falei a nossa geodiversidade ainda não é tão conhecida e valorizada, o que leva por exemplo a ter residências em cima das rochas da Pedra do Sal. Houve um tempo em que a legislação não era a mesma e ficava difícil de se questionar certas coisas porque os valores eram outros, mas que hoje em dia não seria mais permitido. Eu vejo que é preciso que os nossos governantes repensem essa facilidade de entrada dos empreendimentos. Não estou querendo evitar que as pessoas venham para o nosso litoral, é importante para a população ter a sua fonte de renda. O que eu quero dizer é que é preciso conhecer e entender a dinâmica [natural] e trabalhar aquelas possibilidades que são mais adequadas. Por que não trabalhar com a população local? Por que não trabalharmos com as pequenas pousadas, com a convivência com os moradores, pescadores, etc., por que não? Por que é tão necessário construir resorts? Eu não vejo sentido, já vi até pessoas que se hospedam nas grandes pousadas e nem tomam banho no mar, banham só na piscina, qual é o sentido? Conheço alguns resorts em estados do Nordeste que ficam um do lado do outro, e como a praia é pública, existe apenas uma pequena faixa para as pessoas passarem, mas mesmo assim, é uma coisa muito complicada, tenho muito apreço pelo nosso litoral e também medo do que pode acontecer. Recentemente, fiz uma pesquisa com os estudantes da universidade, relacionada a história do porto de Luís Correia e ainda que a pesquisa tenha sido bibliográfica em função da pandemia, é possível observar a quantidade de implicações ambientais negativas de construções no litoral. Então, é preciso ser muito bem pensada e estudada... E a maior preocupação com o nosso litoral é a sua extensão: ele é pequeno, então corremos o risco, diante da fragilidade do ambiente costeiro, somando a essas construções inadequadas e a pequena extensão, corremos o risco de no futuro não haver mais um litoral onde nós, população, possamos usufruir dele, para relaxamento, recreação, para momentos de tranquilidade com nossas famílias. Essa é minha preocupação e acho que deveria ser repensado e estudado mais e se ter mais cuidado com as permissões dadas a esses empreendimentos no nosso litoral.
Sapiência – Como podemos solucionar o aumento de lixo hospitalar em locais inadequados, por exemplo, o descarte irregular de máscaras de proteção (N95)?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Em relação aos resíduos sólidos, o lixo hospitalar tem sido, talvez, uma das maiores preocupações dos gestores, de forma geral, para solucionar essas questões. Até porque tem um setor privado, também envolvido, que dificulta mais a questão do lixo hospitalar. É uma situação preocupante. Eu lembro que, no início da pandemia – e aí a importância da informação também entra nesse momento –, as orientações sobre o descarte começaram de uma forma. Depois, se percebeu que não, se passou a conhecer melhor a doença, sua disseminação, e começaram, então, a dar as informações de forma mais concreta à população. Eu vejo com preocupação uma possibilidade disso impedir ou talvez fazer com que essa pandemia demore mais a ser controlada, porque não sabemos como é que está sendo esse manuseio. Nós, que temos acesso à informação, conseguimos talvez descartar. Nós achamos que consegue descartar da forma correta, na realidade. Porque depois que sai da nossa casa, a gente não sabe para onde é que vai. Aqui no meu condomínio, por exemplo, tem acordo com uma ONG – e acho que com a prefeitura também, se não me engano –, que a cada 15 dias, a gente faz aqui a coleta seletiva, separa plástico, papel, pilha, matéria orgânica – são dois ambientes diferentes de depósito –, mas não sei, depois que sai daqui, para onde é que vai. Isso aí eu não tenho como responder. Eu sei que a gente separa, organiza, somos orientados a lavar, limpar, para não levar nada sujo, para não haver contaminação. E quando começou a pandemia, a gente também recebeu a orientação de como acondicionar a máscara, quando é descartável – antes de começar a usar a máscara de pano, tecido –, e tinha esse cuidado sempre de colocar dentro de um outro recipiente e etiquetar – “aqui tem uma máscara usada” –, mas até onde quem faz isso – a população toda faz isso? – não tem como todo mundo fazer isso. Tem dois caminhos, talvez. Não dá para ter certeza, mas acredito que tem dois caminhos. Um caminho é os gestores, as pessoas que estão à frente da produção, trabalharem com políticas num processo de informação, orientação, e dentro da sua produção melhorar a qualidade desse material que estão produzindo. Essa questão do insumo das vacinas é um problema que nós vamos ter que enfrentar, e eu não sei se a gente vai dar conta, por que a quantidade de seringas que vão ser descartadas… Deus queira que os gestores dos hospitais e das unidades de saúde que vão aplicar essas vacinas tenham esse cuidado de descartar de uma forma correta. Outra possibilidade, como eu já falei, é o investimento na educação, o investimento na informação, na sensibilização das pessoas, de saber fazer o uso correto desse material, a lavagem correta, com que a máscara dure mais tempo possível. E acho, na minha modéstia opinião, que tão cedo a gente vai tirar esse elemento do nosso vestuário, porque eu vejo com preocupação a característica do coronavírus. Ele é um vírus muito resistente, pelo que a gente está observando. Tanto é que não tem nenhuma medicação eficaz. Tem tratamento dos seus efeitos. O tratamento que a gente está vendo aí, a quantidade absurda de óbitos tendo no Brasil e mundo inteiro… Então, percebemos que nós vamos conviver muito tempo com esse vírus. Provavelmente, a gente vai conviver muito tempo com essa nova vestimenta. Um dia vamos vai deixar de usar a máscara? Eu espero que sim. Agora, uma coisa que eu gostaria que não deixasse de fazer parte, é manter esses nossos cuidados sanitários, um ganho que a gente vai ter – mesmo quem já fazia, tinha esse cuidado, essa preocupação. Que a população de forma geral, no mundo inteiro, assuma a importância desses cuidados sanitários, para justamente também diminuir a chance de outras doenças surgirem, não é só o coronavírus. Se for fazer uma análise histórica, a gente vai perceber que no passado as condições de saúde e a medicina, não estarem tão avançadas como hoje, podem ter possibilitado uma grande contingência de fatalidades. Então, a nossa medicina é muito grande. Olha só como é que está a nossa longevidade, a nossa expectativa de vida, cada vez maior, por conta do avanço da medicina! Uma vacina leva 10 anos para ser produzida, e nós estamos com uma vacina produzida há menos de dois anos. Já conseguimos o deslumbre da vacina! A gente precisa aprender com essa situação que a gente está vivendo. Se a gente pode dizer que tem algum ganho é a retomada dessas medidas sanitárias que muita gente pode ter esquecido. Outras doenças – já saíram até informações na mídia – eu assisti recentemente, sobre, por exemplo, a conjuntivite. Tem caído muito a incidência de conjuntivite e outras doenças que são por disseminação, porque as pessoas aumentaram sua higiene pessoal e também de sua casa. Isso vai ser um ganho. Espero que essas medidas as pessoas não esqueçam – ah! acabou a pandemia, todo mundo vai poder ficar normal... Deixem de usar a máscara, tudo bem, para poder a gente se ver, sorrir para todo mundo, mas que não deixem as medidas sanitárias. Que a gente sustente-as, mantenha, melhore cada vez mais. São esses dois caminhos: tem o de quem está à frente do processo e de quem está recebendo, que é a população ser informada. Que os processos educativos possam contribuir para isso. É nesse sentido que eu vejo a situação.
Sapiência – Em 2016, uma das medidas do Acordo de Paris foi reduzir a emissão dos gases que aceleram o aquecimento global em 1,5° C, mas os EUA, na gestão de Donald Trump, maior país em poluição do mundo, saiu desse acordo. Embora o presidente estadunidense atual, Joe Biden, tenha reconduzido a potência a esse acordo, como isso impacta a questão ambiental? De que forma essas gestões governamentais colaboram ou prejudicam?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - A questão do aquecimento global é uma situação muito controversa. Parte da comunidade científica acredita que não existe aquecimento global, parte acredita que existe aquecimento global. Uma coisa que é importante esclarecer: o efeito estufa não é um processo provocado pelo ser humano, algo decorrente das nossas atividades. Ele é um processo natural do planeta, para manter seu equilíbrio térmico. No entanto – por isso que existe o denominador do aquecimento global –, as emissões que a gente está lançando, de CO², para o espaço, nossa atmosfera, intensificam, alteram o efeito estufa, e isso vai provocar o aumento das temperaturas, que é o aquecimento global. Realmente, há uma necessidade muito grande, principalmente dos grandes países, que são mais poluentes, que emitem mais esses poluentes para atmosfera, que controlem essas emissões. Como já falei – e reforço –, não tem como deixar de usar o recurso natural, mas é preciso repensar a maneira de usar esse recurso natural. E aí como é que eu vejo o pensamento dos governantes? Eu acredito que os governos, de forma geral, têm uma grande responsabilidade nesse sentido, porque são os formadores das políticas públicas, essas que vão interferir na vida das populações e nas formas de uso dos recursos naturais de cada país. Eles são muito importantes. É preciso ter legisladores e governantes que tenham uma compreensão sobre a questão ambiental. Não é deixar de usar. Isso não existe. A questão é como usar, que meios nós vamos usar. Realmente, é necessário, eles são fundamentais, porque estão à frente das políticas públicas que vão organizar o nosso dia-a-dia, em todos os setores, e, como eu disse, tudo é meio ambiente. A gente compartimenta, para facilitar a nossa vida, mas entendo que o ambiente envolve todos os setores: saúde, educação, cidade, desenvolvimento, infraestrutura, está tudo relacionado, porque tudo está dentro da dimensão ambiental. Mas as pessoas costumam ver o ambiente mais como a natureza em si. De forma geral, as pessoas entendem que, quando se fala em questão ambiental, se fala só da interferência sobre a natureza. Não, nós também somos natureza, então também tem a ver com a nossa forma de se relacionar com esse ambiente. Eu vi com preocupação a saída dos Estados Unidos desses protocolos. Não que os protocolos vão resolver tudo, porque os protocolos não vão resolver tudo. Os protocolos são, vamos dizer, a agenda de compromissos que esses países assinam para poder tentar encontrar alternativas de diminuir o impacto, a pressão sobre a natureza, e, nesse caso, sobre os poluentes da atmosfera. É importante o retorno dos Estados Unidos a essas agendas, assim como outros países também, o nosso próprio país. É preciso que os governos entendam que o planeta é um só. Nós estamos todos vivendo a partir dos recursos naturais que ele nos fornece. A gente precisa cuidar dele, porque é a nossa casa. Nós não temos outra casa pra morar, só temos esta casa. Nós vamos levar muito tempo para desenvolver tecnologias que nos permitam morar fora. Até porque a ciência da astronomia, cada vez mais, já sabe que não tem condições de vida fora da terra, para nós, seres humanos. Para outros seres vivos, tudo bem. Mas para nós, seres humanos, não temos ainda. É preciso ser pensado, com muita tranquilidade, que os governantes precisam entender a importância dessa questão ambiental, dessas agendas, desses compromissos. Não é uma fórmula milagrosa, porque não vai resolver, principalmente a curto e médio prazo. As pessoas acham que tudo pode ser resolvido logo. Não, tudo tem que ter um tempo, para desenvolvimento, retorno. Mas, se está fora dessas agendas, dos compromissos globais, também não vai conseguir acompanhar o próprio desenvolvimento da ciência nesse sentido. É importantíssimo a presença principalmente das grandes nações, que são os grandes poluentes, nessas agendas, nesses compromissos. Que a gente possa ter políticas públicas que atendam essas necessidades. Podem até não resolver a curto prazo, mas que, ao longo do tempo, possam se consolidar e a gente, através dos estudos científicos, encontre alternativas mais viáveis para viver melhor com o nosso ambiente.
Sapiência – A sua visão sobre o meio ambiente, por conta da Geografia, é muito mais ampla. Quando a senhora diz “nós somos o meio ambiente”, isso é muito Geografia. Nessa perspectiva, como tratar de educação ambiental?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Eu lembro quando comecei meus estudos sobre educação ambiental, quando eu entrei na universidade. Eu conto essa história para os meus alunos, e não acreditam em mim. Toda a minha formação decorre do acompanhamento do trabalho do meu pai. Ele foi engenheiro civil, mas era geógrafo por paixão. Ele foi professor de geografia, um dos primeiros professores daqui, da universidade federal, e era, dentro da geografia, da geografia física, da natureza, aquela geografia que lida com os elementos da geodiversidade. Se estivesse vivo hoje, estaria com certeza trabalhando com geodiversidade e geoconservação. Embora a geoconservação e a geodiversidade tenham vindo da geologia, mas a geografia agregou, de uma forma assim impressionante. Quando comecei a ler os estudos de geografia, a partir da herança do meu pai, eu queria fazer oceanografia – minha paixão é pelo litoral –, mas eu não pude ir. Nós não temos oceanografia no Piauí. O mais próximo que eu encontrei então: geografia. Herança do pai, paixão pelo litoral, então vamos para a geografia. Quando eu cheguei na universidade, Geografia era Ciências Humanas. Aí eu olhei: “como assim?”. “A vida inteira estudei com meu pai de relevo, geologia, rio, mar. Como é que [a geografia] está nas ciências humanas?” Na época, eu era muito jovem. Então, eu considero que eu tive uma crise de identidade naquele momento. Isso foi uma quebra de paradigma pra mim muito importante, porque a partir daí eu fui conhecer a geografia, o que é, o que trazia. Foi que eu fui entender o que é o meio ambiente para mim. Comecei a construir essa minha noção de meio ambiente, e quando eu saí da universidade comecei a repensar minha forma de trabalhar. E durante o meu estágio, de sala de aula, encontrei a educação ambiental, comecei a estudar sobre educação ambiental. Até porque eu também me formei em biologia – minha paixão pela natureza é muito grande. Então, eu queria fazer a conexão. Eu não consegui me conformar de ficar sem a minha conexão com a natureza. Fiz o vestibular de novo – na época era permitido, hoje você não pode ter duas graduações ao mesmo tempo –, passei e fui fazer biologia também na Ufpi. Eu tenho uma formação em geografia e biologia, para entender melhor a dinâmica dos seres vivos e a sua relação com o ambiente. Quando comecei a estudar educação ambiental, eu estudei pela Geografia e pela Biologia. São perspectivas um pouco diferenciadas. O que foi que eu entendi? Primeiro, educação ambiental não é noção de ecologia. Infelizmente, é o que as pessoas ainda pensam. A nossa política ambiental para a educação ambiental é muito avançada a partir do momento que entende que não é uma disciplina, não pode ser tratada como uma disciplina, não é dizer como tratar o lixo, cuidar da água. Isso não é educação ambiental. Isso é informação, uma outra forma de fazer educação, mas não é a educação ambiental em si. Achei bem interessante, porque ela é permitida como disciplina em cursos de pós-graduação, nivelamento, extensão, para melhorar a formação das pessoas dentro daquele conhecimento que a educação ambiental traz, porque ela também traz informação. O que é que eu entendo por educação ambiental? Educação ambiental é construção de hábitos, valores, em relação a sua relação com a natureza. Eu lembro, quando comecei a estudar os princípios, a partir da Conferência de Tbilisi [Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que aconteceu em Tbilisi, Geórgia, ex-União Soviética (URSS), de 14 a 26 de outubro de 1977], na década de 70, uma das coisas, nos estudos que eu fiz, no material que a gente adquiriu, que, assim como a educação que a gente costuma dizer, é um dito nosso – a educação vem do berço –, a educação ambiental também vem do berço. A gente tem que ser educada ambientalmente a partir dos nossos próprios pais, o que eu aprendo com os costumes da minha família, dos valores da minha família, do que eu herdei. Tiro como exemplo, quando meu filho era criança, estudando. Meu Deus, quantas vezes, eu já adulta, formada – e a gente está tão acostumada, tão habituada com aquela coisa, que não lembra mais que está fazendo errado –, quando jogava um papel no chão, ele dizia: “mamãe, você jogou um papel no chão?”. “Não pode.” E aí eu comecei a ver, meu Deus, que exemplo estou dando para o meu filho! O que é a construção desse valor, desse hábito? É você praticar isso no seu dia-a-dia. Isso é educação ambiental. E infelizmente as pessoas não conseguem entender, acham que educação ambiental é uma disciplina. É importante eu saber os princípios dos 5 Rs, dentro da questão do lixo, que são: reciclar, reutilizar, reaproveitar, repensar, recusar e reduzir. É importante eu saber o que é reciclagem, reutilização, reaproveitamento, mas, principalmente, é importante a reeducação, aprender que eu preciso construir esses hábitos no meu dia-a-dia. Eu fiz um trabalho uma vez com uma aluna minha, sobre gestão ambiental do lar, muito interessante, no condomínio dela. Ela observou os hábitos de deposição no lixo, uso da água, e depois criou algumas medidas simples de se fazer em casa. Uma das coisas que eu adotei, neste tempo que estudei, é o reaproveitamento de água de cozimento, que você joga fora. Vai cozinhar um ovo, joga água fora. Eu não, quando é pra cozinhar um ovo, aguardo a água esfriar e uso ela no banheiro. Vou acumulando num balde, pra não usar a descarga no banheiro. Porque cada descarga que você dá, usa uma quantidade enorme de recursos hídricos. A gente reaproveita tudo que pode. Claro que tem coisa que não tem como reaproveitar. Mas pode também reaproveitar, com a compostagem. Se tiver como enviar para compostagem, também pode aproveitar os resíduos orgânicos. Isso é educação ambiental. Qualquer pequena ação que você fizer, que vá diminuir, por menor que seja, a pressão sobre o recurso natural, está fazendo educação ambiental. Educação ambiental realmente precisa ser repensada, não pode ser tratada só como noção de ecologia ou como uma disciplina. Eu vejo com preocupação, às vezes, até com um pouco de resistência – as pessoas dizem que sou muito resistente a isso –, porque, quando sou chamada para trabalhar com educação ambiental, bato sempre nesse princípio: educação ambiental não se faz só dentro da sala de aula. Nós temos os três âmbitos, assim como a própria educação: o formal, o não formal e o informal. Até a propaganda, mesmo tendo um fundo – porque é um fundo de venda, lucro –, pode trazer também educação ambiental. Por exemplo, se for vender um determinado produto, eu preciso de um ambiente limpo para vender esse produto, para ser aceito por quem vai comprar. As pessoas vão ver uma casa limpa, organizada, o material todo bem acondicionado. Isso vai ajudar as pessoas a construir os seus próprios hábitos, lembrando que a consciência é individual. Ninguém conscientiza ninguém. As pessoas precisam entender, individualmente, agregar isso à sua própria forma de agir no dia-a-dia e isso vai depois refletir no coletivo. Isso pra mim é educação ambiental. É a construção desses hábitos diários, valores, numa tentativa de diminuir a pressão sobre o uso dos recursos naturais. Quanto mais a gente conseguir disseminar, e as pessoas se sensibilizarem, melhor. Agora, não é um processo fácil. Tem muitos desafios. Reportando ainda a Tbilisi, quando surgiu os princípios: um dos objetivos máximos da educação ambiental é não existir educação ambiental, não precisar ter que fazer esses processos de educação ambiental, para as pessoas serem ambientalmente educadas. O ideal seria nascer e aprender – desde criança, no berço; em casa, com os pais; depois, na escola; depois, na vida adulta, com os amigos, na rua, nos bairros, nas cidades – a sermos educados ambientalmente. E isso inclui também a relação com os outros, conosco mesmo, com o ambiente e uns com os outros. Porque na medida em que eu respeito o outro, a diferença, a opinião, a forma de se divertir, de se comportar, eu também estou sendo ambientalmente educado, porque eu entendo o ambiente como sendo tudo. É nesse sentido.
Sapiência – A senhora se referiu à publicidade, que pode servir também como peça de educação ambiental, mas todo ou quase todo conteúdo publicitário disponível é desprovido de tal informação. Uma propaganda de cerveja, por exemplo, nunca teve qualquer orientação no sentido de como e onde depositar a respectiva embalagem do produto – garrafa, lata, etc. A propaganda deveria trazer isso como um princípio norteador da marca da empresa em questão?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Exatamente. A análise que especialmente nós, professores, fazemos, na hora de construir e desconstruir conhecimento, trabalhando isso na sala de aula com nossos alunos, é que esse processo é involuntário. Eles não sabem o que estão fazendo. Uma das coisas que evoluíram bastante na propaganda foi quando acabou a propaganda do cigarro. Porque era totalmente incompreensível. Lembro, quando era menina, de uma propaganda de cigarro americano, que mostrava o rapaz da propaganda em cima de um cavalo, nas pradarias norte-americanas. Como é que uma pessoa que fuma direto pode ter aquela resistência, aquele fôlego todo que ele tinha? Eu ficava assim, pensando: minha gente, tem alguma coisa errada nisso daí. A informação subliminar que vinha ali não era de educação ambiental. Mas existem algumas propagandas hoje que trazem um pouco de respeito ao meio ambiente, em que você pode construir ou desconstruir a questão da educação ambiental por trás das propagandas. O pessoal que trabalha com propaganda deveria inserir, ao final – não se fala, depois da propaganda da bebida, “beba com moderação”? –, “descarte corretamente o vidro, envie para reciclagem a embalagem da cerveja”. Por que não? Seria um trabalho de educação ambiental. Então, a gente tem que avançar muito nesse sentido. Mas é uma porta, uma possibilidade que teria um grande alcance. A questão é que isso pode às vezes diminuir – eles podem pensar, julgar, acreditar – o consumo. Eu não acho que vai diminuir o consumo. Eu acho o contrário. Seria uma forma de as pessoas entenderem que aquela empresa está sendo responsável ambientalmente, já indicando: “eu tô ali na praia, bebi a cerveja, vou jogar na areia”? “Não, eu vou separar, organizar e enviar para reciclagem.” Isso seria uma forma melhor de ver essa porta que poderia abrir para a propaganda ajudar mais a educação ambiental. Mas existem alguns exemplos. São poucos, mas existem.
Sapiência – Desde a década de 70, estamos acostumados a ver esse discurso sobre a sustentabilidade e a poluição com mais afinco. E desde essa década vários encontros foram promovidos para discutir essa questão, seja as cúpulas ambientais, os fóruns sociais-mundiais, dentre outros. Mas parece que tem servido apenas para discutir mesmo, porque de medidas realmente efetivas não vemos muitas. Então professora, a sua visão realista, como cientista, observando esse cenário de quase negação ou até negação escancarada de alguns países acerca desses problemas ambientais e de nossa contribuição na emissão de gás carbônico (CO²). Qual o cenário ambiental que deve acontecer em um curto e longo prazo?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Quando a gente discute a questão ambiental, em que a questão ambiental eclodiu na década de 60, a partir dos estudos da Rachel Carson Primavera Silenciosa, e a partir também dos estudos do Clube de Roma, década de 60 -70, aí começaram as grande conferências, eu costumo avaliar que embora nós tenhamos essas resistências ainda hoje das agendas, dos compromisso entre os grandes países (principalmente os países com maior potencial de poluição), a gente precisa avaliar que temos avanços. Nossa legislação brasileira é exemplo disso, ainda que tenhamos problemas de fiscalização e de cumprimento dela, mas é um avanço. No mundo inteiro, se você pudesse voltar com uma máquina do tempo (eu sempre falo isso para os meus alunos) e voltar lá para a década de 50, pós segunda guerra mundial, ou um pouco antes até, pós revolução industrial, a gente ia perceber uma forma de relacionamento com a natureza totalmente diferente. Naquele tempo, o recurso natural era uma mera mercadoria, só servia para a gente usar e pronto. Não havia nenhuma preocupação com a capacidade da natureza se regenerar, de se recuperar. Não havia nenhuma preocupação com o equilíbrio dos ecossistemas, então isso já avançou. Isso foi um avanço, ainda que não suficiente, mas considero um avanço quando se tem a explosão das questões ambientais na década de 60 e 70 no Brasil. Até a existência das diversas conferências em todos os sentidos, desde a conferência do Meio Ambiente, de forma geral, que é promovida pela ONU, desde as conferências específicas de clima, de biodiversidade, e de várias outras que existem. Então, eu acho que é um avanço. Agora, quando a gente pensa que ainda há uma resistência muito grande com esses protocolos e que realmente tem visto que o paradigma do desenvolvimento sustentável, que ele com o termo desenvolvimento sustentado, o que não é verdade, por isso ele evolui para o termo desenvolvimento sustentável que é uma perspectiva de futuro, e aí há uma possibilidade ainda bastante distante, se a economia não rever os modos de produção.
Então a gente costuma dizer que existe uma necessidade de uma ponte muito grande entre a Economia e a Ecologia. Até porque as duas palavras têm uma relação muito estreita. A palavra Eco significa Casa, vem de Oikos. A palavra Logia, que vem de Ecologia, significa estudo da casa, conhecimento, né, sobre essa casa. E a palavra Nomia significa organização dessa casa.
Então, como que eu vou estudar sem organizar? Como que eu vou organizar sem estudar? Então, precisa ter uma relação muito estreita entre essas duas ciências. E isso, claro, numa perspectiva multi-interdisciplinar, com o envolvimento de todas as áreas do conhecimento, para a gente poder chegar um dia e a gente poder realmente dizer que alcançamos o desenvolvimento sustentável. O que para alguns pesquisadores isso é até utopia, é uma coisa inatingível. Eu preciso acreditar que é possível, e continuo acreditando que um dia esse paradigma deixe de ser um paradigma e passe a ser uma realidade urgente.
A gente discute um pouco as vezes o que está dito lá na definição de desenvolvimento sustentável, que fala que a gente tem que deixar um ambiente saudável para as gerações futuras. Aí eu pergunto, a gente vai deixar um ambiente saudável para as gerações futuras, mas minha pergunta é o inverso, que gerações nós vamos deixar para o ambiente? Quem nós estamos preparando para serem nossos educadores, nossos gestores, que vai fazer a política pública, que vai organizar a economia para o futuro.
Tem autores que costumam dizer que somos passageiros, a hipótese de Marshall diz que nós a terra é uma nave espacial e nós somos a tripulação. E outras pessoas ocupam nosso espaço nessa nave. Então, eu vejo isso como uma limitação, mas eu acredito que exista uma possibilidade, desde que haja um repensar nessa forma de relação da Economia com a Ecologia. Já existem grupos, existe uma vertente da economia chamada economia verde, economia ecológica que já tenta fazer essa adequação. Existem exemplos no mundo de populações que vivem numa tentativa de uma relação mais estreita e menos degradante com a natureza que são as ecovilas, mas aí são escolhas de pequenos grupos, de deixar de fazer uso de alguns produtos da tecnologia que são mais degradantes.
E aí, a gente não pode impor a essas pessoas. Não pode dizer: “você vai deixar de usar ar-condicionado”, porque o ar-condicionado joga determinado elemento para o ambiente. É Preciso encontrar outros meios de melhorar a climatização da sua casa que diminua essa emissão. Então, esse é um trabalho muito complicado e eu não vejo uma solução a curto prazo. Eu vejo sempre a médio e longo prazo. E na minha opinião o principal processo para que isso aconteça é educação, é o investimento na educação. Acho que a educação é a porta principal, é o mecanismo principal, é a ferramenta fundamental para que a gente consiga chegar algum dia ao desenvolvimento sustentável ou ao paradigma que a gente criar. Existe já se escalando por conta da concentração maior em áreas urbanas de cidades sustentáveis. Então, a gente precisa tentar, seja qual for o paradigma, mas aquele que seja inerente a uma relação harmoniosa e respeitosa entre nós seres humanos, conosco mesmo e com o ambiente que a gente vive e do qual a gente depende.
Sapiência – Nos últimos anos o Brasil vem sofrendo muito com os desmatamentos, e além disso nessa última gestão, do governo federal, estamos enfrentando problemas sérios quanto ao desmanche de órgãos competentes para atuação na área de conversação e proteção ambiental. Qual a sua avaliação acerca dessas questões?
Profª. Drª. Elisabeth Mary de Carvalho - Com muito pesar. Com muita preocupação. O Brasil, nosso país tem um potencial significativo, é um país continental, com uma dimensão gigantesca e que inclusive dificulta muito a organização, e aí as políticas públicas do nosso Brasil, pela sua grande diversidade não só natural, mas também cultural. O que vai implicar em políticas diferenciadas. Então, eu vejo isso com muita preocupação. Hoje mesmo, antes da gente começar eu estava assistindo o jornal e estavam falando das avaliações internacionais sobre as posturas que o nosso Ministério do Meio Ambiente, no início da pandemia, aquela fala, infelizmente, é muito complicado o ministro dizer que ia aproveitar a boiada. Aquela coisa a gente vê com muito pesar né. Muito triste. A gente vê um Ministro do Meio Ambiente sem preocupação com nossa própria legislação e a nossa própria forma de lidar com a questão ambiental. Então, repito, vejo com muita preocupação, muito pesar, eu realmente acho que teremos problemas muito sérios no futuro. Desde que o Inpe começou a fazer o levantamento da cobertura espacial do desmatamento na Amazônia, a coisa só tem piorado. E nesse último ano, piorou mais ainda. Isso vai implicar não só em consequências da dinâmica natural, mas também implica em consequência para os nossos povos indígenas nativos, que estão lá, que dependem diretamente muito mais do que nós que vivemos nas cidades, dependem diretamente dos insumos da floresta. A própria floresta amazônica vai interferir na questão da nossa circulação atmosférica. Embora a Amazônia, não seja como as pessoas costumam comentar que seja o pulmão do mundo, e não é a Amazônia, são os oceanos, mas a Amazônia traz a umidade, por conta da floresta, da intensa evaporação, ela traz a umidade para atmosfera e essa umidade em função dos ventos, ela chega até o sul, que são chamados de rios voadores. Então, a interferência, no desmatamento, não gera consequências só para a Amazônia, ou para o Norte do país, é para o país inteiro, e pra América do Sul inteira também. Então, é muito preocupante. Eu vejo que há uma necessidade de se pensar melhor em quem a gente está colocando nessas tomadas de decisões. A população precisa entender melhor, estudar melhor os planos de trabalho das pessoas que vão assumir essas funções, porque vai implicar diretamente nessas políticas públicas. E essas políticas vão afetar, não só o ambiente, mas também no dia-a-dia da população brasileira.
Também me preocupo com essa questão dos órgãos ambientais que já se consolidaram no Brasil, a atuação, por exemplo, do Ibama. Eu fiquei muito preocupada na época que o Ibama foi desmembrado pelo ICMBio, eu estava em Santa Catarina fazendo meu doutorado, quando isso aconteceu. Eu lembro que teve um dia em que fui buscar um mapa, não lembro exatamente o que foi, em uma gráfica e eu passei em frente a sede do Ibama, lá em Florianópolis, e de longe dava para ver uma rachadura no prédio. Aí eu pensei: Gente! o que aconteceu com o prédio, aqui não tem nem muito movimento sísmico, no Brasil, Como que tem essa rachadura no prédio? Isso de longe. Quando eu me aproximei, não era uma rachadura, era uma pintura, representando uma rachadura porque eles estavam protestando contra a divisão do órgão. Independente disso, os dois órgãos se consolidaram, a atuação deles é próxima, mas é diferenciada. E ambos têm uma atuação muito importante, muito significativa para o país. Então, na medida em que o país avança, porque quando o Brasil começou com os estudos ambientais, que surgiu na primeira secretaria especial de Meio Ambiente, a SEMA, depois ela evoluiu para Ministério do Meio Ambiente. Aí nós tivemos o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF, que eu tive o prazer de conviver muito quando criança, eu morava do lado do Horto Florestal, em Teresina, onde hoje é a sede do Ibama. Então, a gente via, ainda que com limitações, mas a gente via a atuação desses órgãos. E aí a gente se preocupa quando começa a ver que esses órgãos perdem a sua valorização, o seu significado começa a ser desmontado a partir dessa de forma de pensar dos nossos governantes. Então, isso eu realmente vejo com preocupação. Mas sou uma pessoa de fé, que acredita no melhor das pessoas, então eu espero que, como tudo na vida passa, assim como a pandemia vai passar, eu espero que esse tempo que a gente tá vivendo passe e que novas pessoas se agreguem se organizem e venham contribuir para que a gente possa reverter essas coisas que estão acontecendo, que no momento, parecem que só vão nos levar para uma situação mais complicada.
Internamente, para o nosso país é uma situação muito complicada, a gente vai ter prejuízos. E ainda vai ter gente que vai querer dizer: “há mais eu quero beneficiar o grande produtor” Gente, o grande produtor vai ter prejuízo também. A natureza é integrada. Então, se eu não tiver o recurso hídrico, se eu não tiver aquele ambiente definido, a minha produção não vai funcionar, é necessário o recurso natural.
A gente costuma dizer que as pessoas estão dando tiro no pé, né, ou dando murro em ponta de faca. Estão se prejudicando sem perceber. Por isso que eu gosto de ressaltar a importância da ciência, o estudo, o conhecimento, para se entender a dinâmica da natureza. Para saber até onde podemos ir, e até onde nós não podemos. E ainda tem mais, essa questão do desmatamento, a gente foca na Amazônia, mas não é só na Amazônia não. A gente sabe que existem muitos processos degradantes no país que são muito preocupantes. Não é só em relação a biodiversidade, mas em relação a recursos hídricos, minerais, recentemente eu fiquei sabendo de uma situação em Maceió que eu não sabia, porque eu não tenho muito tempo, por conta da universidade, de ficar assistindo muito tempo ao telejornal. Eu assisto de manhã cedo, eu assisto cinco minutos durante o café e depois volto ao trabalho. Às vezes, eu raramente assisto o jornal à noite. Mas fiquei sabendo de uma situação que ocorreu em 2018, de uma exploração de sal gema que está prejudicando o subsolo e está afundando um bairro. Gente, isso é muito complicado! E aí a gente realmente precisa rever essas formas de se utilizar os recursos naturais. E eu volto a dizer, não tem como a gente deixar de usar o recurso natural, porque seria próximo a deixar de existir. Mas a gente tem que repensar a nossa forma de utilizar esses recursos e a nossa forma de convívio com a natureza e uns com os outros.∎
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