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Avanços e Desafios para a Ciência no Brasil

Foto do escritor: Francicleiton CardosoFrancicleiton Cardoso

O físico Anderson Gomes fala sobre os caminhos para fortalecer a ciência e tecnologia no Brasil, destacando a importância da educação, da inovação regional e do investimento em pesquisa para superar os desafios do país.


Na busca por construir um futuro mais promissor para a ciência e tecnologia no Brasil, a trajetória do físico Anderson Gomes se destaca como um exemplo de comprometimento e dedicação à pesquisa e à formação de recursos humanos. Com uma sólida formação acadêmica que inclui doutorado no Imperial College e pós-doutorado na Brown University, Gomes é professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atua como pesquisador 1A do CNPq. Sua atuação vai além das salas de aula, estendendo-se a várias comissões científicas e conferências, onde suas contribuições moldam políticas de ciência e tecnologia.


Em uma entrevista reveladora, ele discorre sobre os principais obstáculos que o Brasil enfrenta para avançar na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), ressaltando a importância da continuidade das políticas públicas e da educação de qualidade desde os níveis mais básicos até a formação acadêmica superior. Gomes também enfatiza a necessidade de criar oportunidades para jovens talentos, especialmente nas regiões menos favorecidas do país, e compartilha exemplos de iniciativas bem-sucedidas no Nordeste, como o Porto Digital, que demonstram o impacto positivo da ciência na sociedade.


Além disso, o professor reflete sobre o papel das universidades na promoção do desenvolvimento sustentável e na resolução de problemas locais, defendendo uma mudança de paradigma que permita uma maior integração entre a academia e as demandas sociais. Ele destaca a relevância da fotônica como uma tecnologia habilitadora, capaz de gerar novas aplicações que podem impulsionar o desenvolvimento econômico e tecnológico da região.


Por fim, o professor aborda a comunicação científica como um elemento essencial para o engajamento da sociedade, especialmente em tempos de desinformação, e sugere que medidas concretas devem ser implementadas para incentivar a permanência de jovens pesquisadores no Brasil. Com uma visão clara e ambiciosa para o futuro da ciência no país, Anderson Gomes propõe uma agenda de CT&I que almeja não apenas atender às necessidades atuais, mas também preparar as futuras gerações para os desafios que estão por vir.

Professor Dr. Anderson Gomes acredita que a fotônica oferece oportunidades para o Nordeste.  (FOTO: Adilson Andrade/Ascom UFS)
Professor Dr. Anderson Gomes acredita que a fotônica oferece oportunidades para o Nordeste. (FOTO: Adilson Andrade/Ascom UFS)

Durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação - CNCTI, da qual foi secretário-geral adjunto, foram discutidos os desafios de construir uma agenda para CT&I no Brasil. Quais são, em sua opinião, os principais obstáculos que o país precisa superar para avançar nessa área?


A construção de uma agenda de CT&I precisa ser uma ação permanente, de estado, e um dos principais desafios e gargalos é a falta de continuidade. Mudanças estruturantes podem ser concretizadas, mas levam tempo, pelo menos 2 a 3 décadas. Além disso, um outro grande obstáculo é a educação (ou a falta dela), no sentido amplo, que inclui a educação acadêmica desde os primeiros anos de formação.


O senhor tem uma trajetória significativa em trabalhos realizados no Nordeste. Quais particularidades e desafios dessa região precisam ser considerados na formulação de políticas de ciência e tecnologia?


Mais oportunidade em todos os níveis, dos jovens aos mais seniors. Quando a oportunidade é dada, os exemplos mostram que na maioria dos casos os resultados aparecem. Na região nordeste, e em outros regiões como o norte e o centro-oeste, onde a defasagem com relação a outras regiões é ainda gritante, quando as oportunidades acontecem as “ilhas” de competência aparecem, em todas as áreas do conhecimento.


Poderia compartilhar exemplos de iniciativas de CT&I no Nordeste, especialmente em Pernambuco, que podem servir como modelo para outras regiões do Brasil?


O exemplo mais recente na área da inovação é o Porto Digital, amplamente divulgado e conhecido. Mas o Porto Digital nasceu do então Departamento de Informática – agora Centro de Informática – da UFPE, portanto tudo começa com uma boa base científica, mas não pode parar apenas na ciência. Temos o Departamento também na UFPE, que formou muitos pesquisadores que hoje estão em diversas instituições de ensino superior em diversas regiões do País, inclusive no Nordeste. Essas iniciativas são no âmbito da formação de recursos humanos, e com recursos humanos qualificados, vem o desenvolvimento tecnológico e a inovação.


Como o senhor vê o papel das universidades brasileiras na promoção do desenvolvimento sustentável e na resolução de problemas regionais, especialmente no contexto do Nordeste?


A Universidade brasileira de forma geral precisa de uma boa sacudida, uma mudança de paradigma. Enquanto isso não acontecer, vai ser difícil resolver problemas do presente – e do futuro, mesmo que ainda não saibamos quais – com métodos do passado. Para ajudar a resolver os problemas, a universidade precisa avançar, ter novos olhares, sair do tradicionalismo. Tem muita gente capacitada a ajudar a promover o desenvolvimento sustentável e outros desafios regionais, mais falta uma unidade, uma ação coordenada, em que a universidade tenha um protagonismo como instituição, e não somente com uma parte das pessoas que a constituem.


O senhor coordena o Instituto Nacional de Fotônica. De que forma a pesquisa em fotônica pode contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Nordeste?


A fotônica é a tecnologia que usa a luz como uma ferramenta, em diversos campos de atuação. Ela é considerada uma tecnologia habilitadora. Por exemplo você pode usar um feixe de luz de um laser para fazer cirurgia não invasiva. Pode usar a luz que viaja através de uma fibra óptica para servir como sensor e monitorar o meio ambiente (com alguns materiais específicos atuando em conjunto com a luz). Nós precisamos de formar mais estudantes, a partir do ensino médio – que pode ser técnico – até o nível superior para atuar em aplicações tecnológicas usando a fotônica. O monitoramento com dispositivos ópticos tem uma vasta gama de aplicações e pode ajudar o desenvolvimento do nordeste. Empresas podem ser geradas – portanto melhorando a economia local e regional – com base em dispositivos fotônicos. São Carlos, no interior de São Paulo, é um exemplo na geração de negócio com base na fotônica que devia ser adaptado ao Nordeste.


A revista Sapiência se dedica à popularização da ciência. Como o senhor vê o papel da comunicação científica na redução das desigualdades regionais e no engajamento da sociedade com temas de CT&I?


Essencial! Necessário! Precisamos conversar com a sociedade numa linguagem adequada e ajudar a tornar claro o papel da ciência e do cientista. Ciência não é só fórmulas e equações. Entender qualitativamente como as disciplinas da ciência – química, física, biologia, etc. – se traduzem no cotidiano é essencial. Não só nas escolas, mas também em larga escala na sociedade. Os jornais deviam ter colunas ou páginas no mínimo semanais dedicadas a divulgar ciência para a sociedade. O uso das diversas mídias para divulgação científica, precisa ser largamente ampliada para combater as notícias falsas (fake News), boa parte delas com cunho científico (mas de maneira falsa) confundindo os leitores.


Que medidas poderiam ser adotadas para incentivar jovens pesquisadores a permanecerem no Brasil, especialmente em regiões fora dos grandes centros?


São várias medidas: proporcionar infraestrutura adequada para a pesquisa, promover interação com colegas de outras partes do País, garantir uma remuneração adequada. Qualidade de vida é essencial.


Considerando a sua experiência, no estado do Piauí, quais seriam as áreas estratégicas em que o investimento em ciência e tecnologia pode trazer resultados mais rápidos e duradouros?


Na realidade a resposta é mais função das potencialidades e necessidades do Piauí. Naturalmente o Agronegócio e Agricultura Sustentável, especialmente no Cerrado e na produção de grãos como soja e milho, é uma área que requer investimento em pesquisa e a EMBRAPA tem excelência no tema para ser parceiro. Subáreas como tecnologias de precisão, biotecnologia e automação agrícola são importantes. Energias Renováveis, onde o estado já é destaque com energia solar e eólica. Trazer um olhar mais para o futuro ainda requer pesquisa. Devido à escassez de Recursos Hídricos, esta é uma área que requer um olhar da ciência. Também considerando o ecossistema piauiense, pesquisa em biotecnologia e ciências da vida pode ser um importante tema para investir em CT&I. Naturalmente, as TICs, que são transversais, devem fazer parte das prioridades. Saúde pública é uma das áreas importantes de desenvolvimento com impacto social.

É importante notar que não “dá mais” pra fazer ou o C, ou o T, ou o I. CT&I andam juntas!


Como o senhor enxerga as mudanças recentes nas políticas de financiamento e incentivo à pesquisa no Brasil? Elas são suficientes para enfrentar os desafios atuais?


As mudanças recentes estão claramente no caminho certo. Ainda estamos recuperando muitos anos perdidos – particularmente os últimos 6 a 8 anos - tanto no aporte financeiro à CT&I, como na formação de recursos humanos. As mudanças tem sido necessárias, mas ainda não suficientes. Há uma boa e crescente alocação de recursos no principal fundo federal de apoio à pesquisa, o FNDCT, mas o orçamento das instituições como CNPq e vários institutos de pesquisa não tem acompanhado, o que impacta negativamente na infraestrutura para a pesquisa. Não adianta ter os equipamentos se não tem os recursos para manutenção. Mas isto está sendo trabalhado e precisa de tempo. Daí a importância da continuidade que mencionei anteriormente.


Que recomendações o senhor faria para a construção de uma agenda de CT&I que leve o Brasil a uma posição de destaque internacional nos próximos 10 anos?


Acabamos de sair da 5ª CNCTI, que trás um conjunto de recomendações neste sentido (vejam na página da conferência, 5cncti.org.br, os documentos disponibilizados), oriundos de uma grande participação da sociedade. Pessoalmente, precisamos investir mais em recursos humanos, incluindo a formação em áreas estratégicas, a manutenção de pesquisadores com mais de 10 anos de formação no mais alto nível da carreira, um programa de desconcentração regional arrojado, e um forte investimento no ensino fundamental e básico para formar as próximas gerações com uma visão onde a sustentabilidade está na base transição que precisamos que aconteça.∎

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