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Foto do escritorYury Pontes

Mudanças no Litoral do Piauí

Litoral recebe visitas de tubarões com mais frequência por diminuir o fluxo de barcos e banhistas

Foto: Reprodução - Ana Raquel S. Hernandes/TCE-PI

O litoral piauiense além de ser um recanto de lazer para as famílias, também é um lugar de real importância para o fomento do turismo no estado. Parte dessa importância encontra-se em uma paisagem única nas Américas em mar aberto, o Delta do Parnaíba, com cerca de 2700 km² de extensão, divide-se entre os estados do Maranhão e Piauí, além de possuir um conglomerado com cerca de 80 ilhas.


A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM (2006), destaca que a região deltaica apresenta unidades lito estratigráficas, ou seja, camadas rochosas presentes no solo da região, contendo depósitos de pântanos e mangues, compostos por areia, silte, argila e material orgânico, além dos chamados grupos barreiras, compostos por arenitos e conglomerados, com intercalações de siltitos e argilitos, de unidade lito estratigráfica com maior representatividade na região, além das paleodunas. Essas morfologias atribuem variabilidades de aspectos biológicos, promovendo o ciclo natural e interação entre as espécies da região.


A profª. Drª. Edvania Gomes, docente do curso de Graduação em Turismo (UFDPar) e Pós-Graduação em Geografia - PPGGEO/UFPI, conta sobre a importância do Delta para o Piauí.

“É justamente o desenvolvimento socioeconômico local que mais ganha com a presença do Delta do Parnaíba. Esse lugar é uma unidade de conservação muito diversificada. Lá se tem diferentes paisagens como dunas, rios, o mar, além de três tipos de mangue, a prática artesanal das comunidades ribeirinhas. Estamos tentando fazer um turismo menos impactante. Onde o turista vai para conhecer, ver, presenciar, realizar o ofício praticado pelas comunidades como a pesca, esse modelo é chamado de turismo de vivência, e ele atrai mais os turistas internacionais principalmente. Eles procuram mais esse turismo menos badalado e mais sustentável. Porém com a pandemia, não está ocorrendo muito esse tipo de turismo, o que prevalece é o turismo doméstico”, explica Edvania.


Apesar de toda a importância da região, não apenas o litoral Piauiense, mas todo o Nordeste passa por diversas mudanças ambientais e efeitos da ação humana, assim como também pela degradação ambiental da costa nordestina que, por exemplo a cerca de dois anos, foi afetada por um grande derramamento de óleo de aproximadamente cinco mil toneladas em suas praias.

De acordo com a investigação realizada pela Marinha do Brasil, na época, o derramamento afetou cerca de 700 km da costa brasileira. O evento causou enormes prejuízos, tanto para fauna e flora destes territórios, como para a economia local - pescadores, feirantes, artesãos, entre outros - e também para o turismo na região.


A professora Edvania Gomes conta que não existem mais impactos com relação ao derramamento no Piauí, além de que não foi um dos lugares mais atingidos pelo derramamento. Houve um impacto momentâneo, pois as comunidades precisavam parar suas atividades como a pesca por exemplo e precisavam se reorganizar. "Nós precisamos dar uma pausa no plano de manejo dessa unidade de conservação por conta da pandemia. O dinheiro destinado para a pesquisa teve de ser remanejado para o combate à covid-19, para a compra de material de proteção, por exemplo, às comunidades ribeirinhas”, explica.


FOTO: Reprodução/Eliane Dipp

Tubarões no Piauí

Em setembro de 2019, no litoral piauiense, foi avistado o que poderia ser um grupo de tubarões. O ocorrido foi gravado e divulgado por banhistas que estavam próximo a praia do coqueiro.

No ano de 2021, no final de outubro, pescadores relataram que um tubarão-tigre de cerca de 1,80 metro de comprimento e 20 quilos morreu após ficar preso em uma rede de pesca no alto mar, na Praia do Coqueiro, em Luís Correia - Litoral do Piauí. O animal de nome científico Galeocerdo cuvier foi levado para a costa pelos pescadores e teve a carne comercializada, como divulgada em diversos portais de notícias locais, como G1, GP1, Portal O Dia, dentre outros.


A bióloga e doutora em Sistema Costeiros e Oceânicos, Geórgia Aragão, há dois anos, confirmou através das redes sociais e posteriormente divulgada por portais de notícias citados acima, a presença de tubarões em uma área próxima à Praia do Coqueiro, no litoral do Piauí. De imediato, foi alertado para que os banhistas na região evitassem entrar no mar, pois não se sabia qual espécie havia sido avistada. “Hoje, 6 de setembro, a gente está confirmando a presença de tubarões na Praia do Coqueiro. [...] Tem um grupo de tubarões, sim, muito próximo a área de praia. Está ali na área de arrebentação. A indicação, orientação é que não se deve entrar na água. A gente sabe qual é a espécie, de qualquer formas, por questão de segurança, não se deve entrar na água em nenhuma área do litoral do Piauí porque estão sendo avistados lá no Coqueiro, mas esses tubarões não ficam fixo”, relato da doutora, através das redes sociais.


De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar), que estava investigando o ocorrido, relatou que a hipótese mais sólida é que os tubarões avistados eram tubarões lixa, de nome científico Ginglymostoma cirratum.

A bióloga explica que a espécie é extinta em vários locais do Brasil e que a espécie não representa ameaça a seres humanos, e que inclusive passa por processo de extinção por uma das espécies mais pescadas na região.


A professora Edvania destaca que a presença dos tubarões na costa piauiense não é algo muito atípico. “É muito locacional [a presença dos tubarões], por diminuir o fluxo de barcos, além da baixa movimentação de turistas, eles aparecem com mais frequência para se alimentarem. Eles sempre estão aqui, e isso nunca os impediram. Uma vez vi o peixe-boi filhote com sua mãe, e eles passaram de um lado da costa para o outro para se alimentarem. Depois, retornaram para Cajueiro da Praia. Esse tipo de avistamento ainda é muito presente na costa piauiense, pois temos um sistema bem equilibrado”, destaca.


Igaraçu, o braço do Parnaíba


O Igaraçu é um braço do rio Parnaíba, onde este por sua vez, vem sofrendo com a ação humana ao longo dos anos, desde processos de degradação, à barragens e baixa vazão. O rio Parnaíba é um divisor geográfico entre os estados do Piauí e Maranhão, nasce na chapada das Mangabeiras, no limite sul do Piauí, preservada pelo Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, com altitude de 700 metros, da confluência principalmente de três cursos d’água: o Água Quente, na divisa do Piauí com o Maranhão, o Curriola e o Lontra, no Piauí, percorrendo 1.344 km até sua desembocadura entre os dois estados.


Os ribeirinhos, de acordo com a pesquisa da Pesquisadora (em seu livro Meio Ambiente, Patrimônio e Turismo no Piauí), principalmente das áreas urbanas menos desenvolvidas, ainda perpetuam seus subsídios através da agricultura, pela irrigação do rio próximo às suas margens. Desta forma, o rio se torna essencial para atividades relacionadas ao campo, apesar de apresentar a pedologia (é o estudo dos solos no seu ambiente natural. É ramo da geografia física, e é um dos dois ramos das ciências do solo, sendo o outro a edafologia) da região litorânea como imprópria para o plantio, o Rio Igaraçu, encontra-se em uma área de mangue, fazendo do solo próximo ao rio, rico em detritos e materiais orgânicos, favorecendo um solo fértil em atividade biológica.


Por mais que o rio demonstre, diversas possibilidades positivas de conciliar atividades socioculturais com o espaço em que o rio se encontra, existem fatores determinantes de apreensão, em relação à ações antrópicas (do homem), ou causas naturais, na qual consiste no decorrer do percurso do rio, onde as fragilidades, podem oferecer riscos tanto para a paisagem natural, quanto para a população que reside próxima ao rio. A vegetação ciliar por exemplo, está visualmente degradada, pela ação antrópica, ocasionadas pela exploração imobiliária, na qual oferece riscos às espécies presentes, além de desconfigurar a paisagem natural, uma vez que a vegetação nativa, contribuem para a evitar o assoreamento do rio.


De acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar - Labomar - na Universidade Federal Do Ceará, para as regiões do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, foi quantificado, em 1978, uma área total de 444,04 Km². O estudo, baseado em imagens de 1999 a 2004, relata que atualmente essa área representa uma área total de 604,38 Km². O que representa ao longo desses 25 anos um aumento de 36,10%, cerca de 160 Km² a mais em suas áreas de mangue.


Além desses fatores apresentados, outra variante preocupa os especialistas. No fim de setembro de 2020, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) revogou por articulação do governo do atual presidente, Jair Bolsonaro, três resoluções sobre temas ambientais. Uma delas, a de nº 303, de 2002, tratava da proteção das áreas de mangues (além de restingas e dunas). Durante a reunião, também foi decidido pela Conama a permissão da queima de lixo tóxico, como embalagens de defensivos agrícolas.


A revogação colocou em risco o bioma alagado, a área protegida mais antiga no Brasil, visto que a primeira norma outorgada para proteção dos manguezais foi um Regimento editado pela Coroa portuguesa no século XVI, há 444 anos, de acordo com o Atlas dos Manguezais do Brasil. Ela servia para garantir a preservação do bioma que permitia e detinha a matéria-prima para tratamento de couro, um dos produtos mais importantes para a economia da colônia.∎


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