O desenvolvimento de protocolos garante a segurança durante e depois de uma pandemia; apresentamos aqui algumas das soluções pensadas nesse sentido no Piauí
Durante diversos episódios na história da humanidade, existiram grandes calamidades. Desastres como grandes guerras e pandemias. Mesmo assim, cada um deles foi, ao seu modo, superado.
A partir de 11 de março de 2020 o mundo passou a viver mais uma dessas experiências com a declaração de Pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mais uma vez um confronto devastador, iniciado no final de dezembro de 2019 com os primeiros casos registrados em Wuhan, na China, do novo coronavírus, responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (Sars-CoV-2, sigla derivada do termo em inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2). A doença passou a ser chamada oficialmente pela OMS de covid-19, sigla para Corona Virus Disease (doença do Coronavírus), com o número 19 fazendo referência ao ano dos primeiros contágios.
Pesquisadores ao redor do mundo, desde então, têm buscado medidas de controle, prevenção e tratamento para a doença. Não obstante disso, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) publicou o edital 001/2020, em caráter de urgência, para fomento de propostas de pesquisas em diversas áreas de conhecimento que impactassem positivamente neste cenário.
Para professores como o Dr. Orlando Berti, Dr. João Marcelo de Castro e Sousa e o Dr. Fábio José Nascimento Motta, existem ameaças circunvizinhas à covid-19 a serem combatidas também, como a desinformação acerca de prevenção da doença e as inúmeras notícias distorcidas que circulam pelas redes sociais durante esse período de pandemia.
Orlando Berti, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), está realizando um trabalho de elaboração de manual de segurança do trabalho que irá auxiliar empresas públicas e privadas quanto à medidas de prevenção e combate à covid-19. O projeto visa através de mídias sociais, entrar em contato com os profissionais do setor de saúde e áreas afins para realização de questionário e posteriormente a elaboração do manual que será distribuído em formato e-book.
“A primeira parte do projeto é escutar os profissionais da saúde e outras áreas que não são exatamente da saúde, mas que também estão inseridas no confronto direto com a doença como funerárias, por exemplo. Após esse primeiro momento, a ideia é processar esses dados adquiridos e em seguida poder trabalhar territorialmente esse conteúdo. Por exemplo, territorialmente na Chapada das Mangabeiras, maior do que o Estado do Rio Grande do Norte, temos uma situação completamente diferente das condições de trabalho do que em outras regiões do Piauí. Então a partir do momento que a gente entende com esses agentes que estão lá atuam, temos a possibilidade de determinar como está sendo gerido esse trabalho na localidade”, explica Berti.
A necessidade, além da prevenção do vírus nos locais de trabalho, também visa o combate à notícias falsas e desinformação que são geradas pelo pouco conhecimento que se tem desta nova ameaça, que pode acarretar em contaminação massiva dentro desses espaços que são a linha de frente de combate à covid-19. Além de atender às necessidades de outros lugares com falta de acesso à informação.
“Em outro trabalho que eu estava envolvido, por exemplo, há dificuldade de acesso à internet em algumas localidades mais distantes de Teresina. Lá não chega nenhuma transmissão das emissoras de Teresina, por exemplo, todo o conteúdo televisivo trabalhado aqui, para eles é a mesma coisa que nada. Logo, informações de controle e prevenção para essas localidades é muito mais restrito. Por isso devem haver diferentes estratégias para estas demais localidades. Se você perguntar quem é Amadeus Campos, quem é Marcelo Magno que estava com a covid-19, por exemplo, eles não vão saber quem é. Informações que chegam até eles é apenas através de internet quando a rede não cai por conta de quedas de energia”, continua o professor.
O cruzamento dos dados, segundo Orlando Berti, será vantajoso para todas as localidades do Estado, pois será possível ter noção de como está sendo realizado o enfrentamento do vírus em todo o território piauiense. As informações que possivelmente serão adquiridas no território Entre Rios, por exemplo, pode favorecer toda uma região que não tem acesso a informações ou técnica de tratamento da doença.
“Muitas vezes, a pessoa está na Planície Litorânea, da região de Parnaíba e pode ter uma técnica mais interessante que poderia ser plenamente compartilhada com quem está no Vale do Guaribas. Por exemplo, o Vale do Guaribas é vizinho da Chapada do Itaim, mas como eles estão nessa correria tão gigantesca, cabe a gente uni-los, através dessa rede informal, capitaneada virtualmente pelo Instagram e pelo whatsapp, para que, com base em suas próprias experiências, eles possam compartilhar essas dicas para construção do próprio manual”, explica.
Orlando ressalta que a ideia não é só criar um manual, mas criar uma rede envolta pelos profissionais que estão diretamente envolvidos com o enfrentamento ao vírus. “A gente não quer trabalhar só com perspectiva de prevenção e contágio, mas até mesmo com questões educacionais. E é nesse ponto que temos também o combate às fake news, com um material interessante feito por pessoas que estão envolvidas no combate à pandemia”, destaca.
Com a mobilização dessa rede de profissionais, em seus diversos territórios, será possível ter uma possibilidade maior de construir coletivamente um amplo espaço de compartilhamento de informações crucial para proteção da população piauiense de perigos como a covid-19, por exemplo. Orlando ainda enfatiza que a ideia do projeto é que ele não seja focado apenas na covid-19, mas que se possa ter uma herança dessa rede reverberando para outras áreas. O professor ainda explica que iniciativas como essa serão de extrema importância para que haja popularização de notícias, como da possível distribuição da vacina, que terá que ser popularizada para todo o território piauiense, por exemplo.
Pesquisadores de diversas instituições, como o caso de Orlando, realizam a produção destes manuais e protocolos para garantir a máxima proteção a essas diversas categorias que continuam em exercício, uma vez que têm sido essenciais para o combate à pandemia.
Dr. João Marcelo de Castro e Sousa, professor do Departamento de Bioquímica e Farmacologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com professores de outros campi do Estado do Piauí, como Floriano, Picos, Parnaíba e também com o Ensino à Distância (EAD), está realizando a elaboração de um manual multiprofissional de segurança do trabalho para prevenção e tratamento da doença. Para ele é necessário que haja capacitação das áreas profissionais em diversos segmentos, pois com cuidados importantes para prevenção, como uso de máscaras de proteção, álcool, dentre outras formas de evitar a proliferação do vírus, pode-se ajudar os diversos setores produtivos a continuarem suas atividades que são de suma importância.
João Marcelo também aponta esses conteúdos de manuais como de sua equipe e do professor Orlando como muito importantes para o combate às notícias falsas. “Com pesquisas científicas e elaboração de protocolos e manuais para combate e prevenção do vírus, através da informação, pode-se ter uma grande diminuição de contaminação em espaços de trabalho, além de garantir credibilidade em informações acerca do vírus, visto que os manuais são elaborados por professores universitários, ou seja, são as universidades se posicionando e atuando no controle e combate à desinformação acerca da covid-19 na sociedade”, explica João Marcelo.
João destaca que seu projeto visa a elaboração de dez capítulos com alunos, ex-alunos de graduação e pós-graduação da instituição em que leciona, e que tem como objetivo trabalhar os diversos setores produtivos do estado do Piauí, tanto dos setores primários e secundários como também dos terciários. Seu projeto inclui também explicar métodos de prevenção e tratamento desde desinfecção dos produtos, como alimentícios por exemplo, até como os funcionários dos demais setores devem agir para atendimento de seus clientes.
“Essa é a ideia, criar um manual onde a gente possa direcionar esses métodos de prevenção à segurança do trabalho. A gente, inclusive, criou um tabela no próprio projeto com todos os setores produtivos, desde o setor produtivo primário, passando pelo secundário até chegar ao terciário: Supermercados; postos de gasolina; padarias, etc. Meus alunos da Nutrição vão fazer três capítulos relacionados com a questão da alimentação, merenda escolar para escolas públicas e privadas,”explica João.
Também será realizado, segundo João Marcelo, questionários com funcionários de empresas públicas e privadas do Piauí para serem realizadas estatísticas e correlações, avaliando, assim, o que esses setores estão fazendo para prevenção. Em seguida, será distribuído materiais educativos para os funcionários. Com a conclusão dessas etapas, será novamente retomado um novo questionário para saber se o material educativo disponibilizado ajudou em algum aspecto que estava sendo realizado acerca da prevenção da covid-19.
O professor João Marcelo e o professor Orlando Berti, em reunião, decidiram que trabalharão em conjunto para a elaboração do projeto. Como o professor João está desenvolvendo o manual para os setores produtivos e o professor Orlando está realizando o manual para os setores da saúde, além de que para poder ser direcionado seus respectivos projetos a mais pessoas, será realizada, na elaboração em conjunto do manual, a distribuição através de e-book e também realizado a publicação do manual em formato físico com o apoio da Editora da Universidade Federal do Piauí (Edufpi).
Pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), o Dr. Prof. Fábio José, do departamento de Bioquímica, está elaborando um protocolo para desinfecção massiva de baixo custo para ambientes públicos e privados de grande circulação de pessoas, e que será avaliado por experiência no campus em que atua.
“Bom, já começamos a realizar a execução do planejamento no laboratório escola da UFDPar visando a segurança das pessoas que estão atendendo no local. Porém ainda não temos todos os materiais necessários. As EPI’s, que são os equipamentos de proteção individual como máscaras do modelo n-95, macacões de proteção química, etc, pois estamos com dificuldade de comprar. Tem muita demanda para pouca oferta e assim não tem disponibilidade no mercado”, explica Fábio José.
O público-alvo do projeto, como explica Fábio, são os pesquisadores, alunos e profissionais dos serviços gerais que vão preparar a instituição para retorno das atividades acadêmicas, para que ocorra da forma mais segura possível. Ele explica que o projeto tem a oportunidade de desenvolver esse protocolo para utilização de substâncias de baixo custo.
O professor explica que para efetivação do protocolo é necessário que haja consciência por parte dos usuários desses espaços que precisarão mudar os hábitos comportamentais para que o sucesso quanto ao combate da doença seja realizado.
“A gente precisa, além de aprender efetivamente como funciona a covid-19, que haja uma reeducação para esse enfrentamento. Isso significa dizer que precisamos de uma mudança cultural para que se consiga implementar, dentre outras coisas, o protocolo que estamos desenvolvendo. Mas infelizmente é uma longa caminhada, pois já é esperado resistência de uma parcela dos indivíduos que devem encarar da pior forma possível essas medidas de segurança”, ressalta.
Fábio explica que o processo de desinfecção, sempre acontece quando não se tem atividade, pois é possível trabalhar com uma equipe reduzida que enquanto estiver trabalhando pode manter o distanciamento social. E, assim, com todos bem equipados, dificulta-se a possibilidade de transmissão desse vírus.
Fábio José explica que por conta das notícias falsas e desinformação a população no geral acaba por misturar substâncias que em conjunto perdem a eficácia contra o vírus. Por conta disso, faz-se necessário a elaboração de protocolos como esse para que seja explicado quais substâncias e como devem ser utilizados esses materiais nos espaços.
“O problema que acontece em muitos casos, as pessoas acabam, na tentativa de tentar “queimar” essas etapas que precisam ser seguidas à risca (de limpeza e desinfecção), e misturam os produtos de limpezas, produtos esses que em sua essência são substâncias químicas e podem ter reatividades se não forem compatíveis. Desse modo, acabam causando prejuízos à saúde de quem está utilizando e frequentando esses ambientes. A combinação desses produtos podem gerar gases tóxicos, por exemplo”, destaca Fábio.
Ele também explica que existem alguns materiais que não são tão eficazes quanto outros. E como se quer rapidez na resposta de desinfecção desses locais para que possa haver circulação de pessoas com segurança, então se pretende também orientar as pessoas a realizarem as melhores compras e fazerem o uso adequado dessas substâncias certas.
Os projetos já estão em fase de elaboração, visto à urgência para suas respectivas publicações e divulgação à sociedade piauiense. Contudo, a conclusão dos projetos deverá ser realizadas dentro do cronograma, pois necessita de tempo para suas definitivas publicações de resultados obtidos das pesquisas. ∎
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