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Foto do escritorJoão Victor Peixe

Malária é favorecida por aspectos geoambientais

Através de geoprocessamento, pesquisador conseguiu detectar aspectos geológicos e ambientais que influenciam na proliferação da doença

A análise de geoprocessamento serve de referência para pesquisas nas mais variadas áreas, podendo ser auxílio para pesquisas relacionadas à saúde da população interiorana do Piauí. É o que demonstra o coordenador do Mestrado de Geografia da UFPI Prof. Dr. Gustavo Souza Valladares, que esteve à frente da pesquisa "Avaliação geoambiental da malária no estado do Piauí", através do Edital nº FAPEPI nº 003/2013. A pesquisa durou 27 meses Além do pesquisador citado, fizeram parte da equipe a Dra. Izabella Hassum e a Geógrafa Léya Cabral.


A pesquisa teve o objetivo de mapear áreas de ocorrência da doença no estado do Piauí, estudando os fatores ambientais de risco que contribuem para sua transmissão. Idealizado a partir da dissertação de mestrado do aluno Antônio Carlos dos Santos, "Estudo Geoambiental da Ocorrência de Casos de Malária no Piauí. Estudo de Caso: Campo Largo do Piauí e Porto 2002 à 2013", o trabalho buscou mapear as áreas de ocorrência de malária e fazer o georreferenciamento dos casos nesses locais.


Para o geógrafo, a malária é negligenciada e esquecida pelas autoridades, principalmente na região considerada extra-amazônica, como é o caso do Nordeste. "Esta pesquisa consiste no estudo geoambiental das ocorrências dos casos da doença no Piauí, especificamente em Campo Largo do Piauí e Porto, do ano de 2002 à 2013. Isto porque houve um surto muito grande da doença no ano de 2004, com o registro de 110 casos nesses municípios", conta.


Para complementar a pesquisa, foram trabalhados dados secundários oriundos das Secretarias de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de pesquisa de campo para levantamento dos aspectos geoambientais e georreferenciamento dos endereços dos casos de malária dos municípios de estudo. "Inicialmente, priorizamos os hábitos dos mosquitos transmissores da doença e o comportamento das pessoas, seu uso e a cobertura das terras, bem como os tipos de profissão que contribuem para a contração da doença. Levantamos o relevo com suas altitudes e declividades de Campo Largo do Piauí e Porto e fizemos mapas de altimetria, declividade e das unidades geomorfológicas", explica.

Também foram utilizados os SIG'S (Sistema de Informação Geográfica), com o objetivo de gerar mapas, com variáveis do meio físico, como geomorfologia, hidrografia e uso cobertura das terras e da saúde, verificando os vetores dos casos de malária. Sua maior vantagem é permitir, através dos mapas, interpretação e análise dos fatores ambientais de risco e da distribuição espacial da doença de forma contínua e direcionada.


Segundo o Prof. Dr. Gustavo Souza Valladares, a pesquisa de campo foi detalhada e consistiu-se em conhecer os locais onde ocorreu malária nos últimos anos. "Foram coletados dados geográficos ligados ao ambiente, e epidemiológicos, como relevo e as chuvas. Pensamos nos fatores ecológicos que interferem na doença, a umidade relativa do ar, mapas de uso e cobertura das terras, como via de acesso, estradas, áreas urbanizadas, diferentes tipos de cobertura vegetal", explica.


A atualização do mapa de distribuição geográfica do mosquito também se fundamentou na análise da altitude, as pastagens, o tipo de vegetação, e a questão da fronteira com o Maranhão, pois é uma área considerada da Amazônia Legal, onde ainda ocorrem casos da doença de forma endêmica.


Além disso, foi feito georreferenciamento a partir dos locais onde as pessoas infectadas costumavam transitar: "riachos, açudes, balneários, assentamentos rurais. A partir disso, construímos seis mapas, e interpomos um no outro, fazendo uma média ponderada", conta o professor. Posteriormente, o sistema somou e dividiu os dados, aparecendo no mapa as áreas de risco para a ocorrência da doença em cima dos fatores estudados.


A pesquisa fez Gustavo Valladares confirma que a transmissão da malária é favorecida por aspectos ambientais. "O mosquito precisa de condições ambientais para sua reprodução: clima tropical quente, corpos d'água, rios, lagos, de preferência com sombreamento. O desmatamento favorece a transmissão, pois o mosquito é muito pequeno e seria mais difícil se deslocar no meio de uma floresta com uma série de obstáculos, como as árvores. Se você desmata, o próprio vento pode ajudar a deslocá-lo mais facilmente; em Campo Largo do Piauí e Porto vimos que a doença tem relação com o relevo, porque áreas de baixas altitudes com acúmulo de água propiciam a proliferação do mosquito", conclui.


Medidas como evitar sair de casa durante a noite, não tomar banho após às 18h em rios, córregos, igarapés e açudes, são essenciais para a contenção da doença. Dormir com mosquiteiro, colocar telas nas janelas e usar repelente são medidas que podem ajudar a combater a proliferação do mosquito.


De acordo com o coordenador da pesquisa, o geoprocessamento pode contribuir para a eficiência do controle da doença. "Pode ser útil para que os órgãos municipais montem equipes que trabalhem com essa ferramenta. Nosso propósito é informar melhor a população a respeito da doença, mostrando onde está ocorrendo e quais as medidas de contenção".


Ele defende ainda a pesquisa como fator de sensibilização da população. "Com esse trabalho, procuramos sensibilizar as pessoas para os cuidados a serem tomados e também sugerir as Secretarias de Saúde a realização de ações de prevenção da doença, por meio de medidas educativas nos locais mais propícios a ocorrência, tanto na zona rural como a urbana”.


A malária

A Malária é uma doença parasitária grave, de evolução rápida, e que mata cerca de 580 mil pessoas por ano no mundo. O mosquito transmissor da malária é do gênero Anopheles, conhecido como mosquito prego. No Brasil existem três tipos da doença: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae. As fêmeas hematófagas são responsáveis pelas picadas nos humanos. Elas procuram lugares luminosos com presença humana, pois precisam se alimentar para maturar seus ovos e reproduzir.


Após a picada, ocorre o período chamado de incubação, e os sintomas da doença podem se manifestar de 10 a 15 dias. No momento em que a pessoa sente os sintomas, deve procurar a rede médica. Fazer o exame para que, a partir do diagnóstico, comece o tratamento. Entre os sintomas da malária estão febre intermitente, vômito e dor de cabeça.


Quanto mais rápido for diagnosticado, maiores são as chances de cura, evitando assim a evolução da doença e o óbito. “O papel das Secretarias de Saúde do estado e dos municípios é intervir com ações de controle químico e biológico para que não haja transmissão para outras pessoas", conta o professor Antônio Carlos.


Piauí em 2019

No ano passado, o Piauí voltou a ter preocupações com a doença. O município de Joca Marques, no norte do estado, foi alvo de alerta quando a Sesapi anunciou a investigação de 40 casos suspeitos. Seis casos chegaram a ser confirmados pela Secretaria de Saúde.


Tal como aponta a pesquisa de Valladares, um fator em comum pode ser observado, uma vez que a cidade faz fronteira com o estado do Maranhão. Como forma de controlar a infestação dos mosquitos transmissores a cidade passou por pulverização inseticida.


 

Confira o resultado da pesquisa na íntegra baixando aqui o relatório final.



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