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Foto do escritorYury Pontes

Heterossexuais são vulneráveis à Aids no Piauí

Pesquisa amparada pela Fapepi contradiz o senso comum, e avalia que mais de 60% dos casos masculinos são héteros e mais de 97% dos casos femininos

"Teresina é avaliada na pesquisa como número um em incidência de casos." Foto: Juscelino Reis/ PMT

Os tabus e todo um contexto cultural têm sido um grande empecilho para a divulgação de informações concretas sobre o problema da Aids, de maneira geral. No Piauí, os dados seguem em crescente. Segundo o boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi) em dezembro do ano passado, entre 2008 e 2018 saiu de 264 para 865 o número de novos casos registrados. Até o último mês de 2019, mais de 750 casos já haviam sido divulgados pela Sesapi.


Com o intuito de compreender essa realidade foi realizada através do Programa de Bolsas de Pós-Graduação para professores da Universidade Estadual do Piauí, amparado pelo Edital Fapepi Nº 004/2016, a pesquisa da professora Drª. Thatiana Maranhão, de 2018, que levantou uma série de dados importantes para compreensão da situação da Aids no Piauí. Tanto a pesquisa da professora quando os dados oficiais convergem em um ponto: o sexo masculino como o mais suscetível ao risco por infecção pela doença. A proporção de infecção chega a ser mais de 2 homens para cada mulher, de acordo com o levantamento de Thatiana.


A pesquisadora trabalhou com análise espacial em Saúde Pública, com as referências de incidência de Aids no Piauí, revelando que 60,6% da parcela de homens com Aids se declaram heterossexuais. Ela ainda aponta que, dentre os anos de notificação, foi verificado um aumento no número de homens infectados que se declaram homossexuais (25,2%) e bissexuais (14,2%). A porcentagem de mulheres infectadas por Aids é majoritariamente composta pelas que se declaram heterossexuais. Apenas 2% se declaram homossexuais e 0,7% se declaram bissexuais.


O estudo ainda aponta que a maioria dos indivíduos foram infectados por vias sexuais, em quase 100% dos casos. De acordo com a pesquisadora, o maior número de incidência de infecção por Aids no Estado foi de jovens entre 20 e 39 anos.


Na pesquisa realizada, Teresina, Demerval Lobão, Nazária e Altos, além de Lagoa do Sítio e Patos do Piauí são os seis municípios onde o problema se mostrou mais proeminente. Já os resultados obtidos por pesquisas da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi), no ano de 2019, os seis municípios com maior incidência de infecção foram: Teresina, com 3.487 casos; Parnaíba, com 162 casos; Piripiri, com 142 casos; Floriano, com 129 casos; Picos, 110 casos e Altos, com 94 casos.


No Piauí, o número de óbitos por Aids foi contabilizado em 955 casos no período analisado. Entre os óbitos, o maior contingente foi de homens com baixa escolaridade, entre 4 a 7 anos de estudo. Mesmo assim, homens infectados possuem maior escolaridade. A maior incidência de óbitos também está entre a faixa etária de jovens entre 20 e 39 anos.


Entre os objetivos da pesquisa, que tem como meta verificar os aglomerados tanto de casos de incidência de Aids como de mortalidade, pode-se verificar qual a maior concentração de casos, além de verificar quais os fatores sociais que influenciavam tanto o adoecimento como os óbitos por Aids.


As variáveis de incidência da Aids nos municípios foram: percentual de pessoas em domicílio com paredes inadequadas; média de moradores por domicílio; percentual de pessoas em domicílio em vulnerabilidade à pobreza e baixa escolaridade (sem ensino fundamental).


Entre a associação estatística de escolaridade e sexo, pode-se perceber que os indivíduos com Aids do sexo masculino têm maior escolaridade do que indivíduos do sexo feminino. Também foi verificado a partir de associação estatística entre escolaridade e local de residência que indivíduos infectados que moram na capital, em Teresina, têm maior escolaridade que os indivíduos que moram no interior.


Embora a pesquisa indique que a maior parcela de indivíduos infectados seja de homens heterossexuais, Thatiana indica que a porcentagem de homossexuais e bissexuais infectados vem aumentando ao longo do tempo. “Vem aumentando, tinha estagnado no Brasil, voltou a aumentar entre homossexuais e bissexuais. Então as estratégias de intervenção devem ser direcionadas principalmente para os homens jovens e que se declaram homossexuais e bissexuais”, declara a pesquisadora.


A pesquisadora também explica como foi realizado o estudo, com análise feita a partir de Geoprocessamento, estudo ecológico em que se verifica os fatores sociais que interferem no processo saúde-doença. “Nesse caso, eu estudei quais eram os fatores sociais que influenciavam, tanto nos casos quanto nos óbitos por Aids no Estado do Piauí. Quando a gente trabalha com essas fichas de notificação a gente fica muito amarrada as variáveis que tem na ficha, sendo que muitas dessas variáveis são subnotificadas, muitas vezes o profissional que notifica os casos negligência dados como raça, escolaridade, categoria de exposição, há muitas perdas em fichas de notificação”, ressalta.


Thatiana ainda ressalta o problema gerado a partir da negligência por parte dos profissionais que notificam os casos. “Isso atrapalha demais, porque o dado não fica tão fidedigno quanto deveria ser, a gente trabalha com o que tem e a gente sempre tem que ficar mostrando a quantidade de perdas para cada variável. Por exemplo, na variável raça, foram excluídos 200 e tantos casos por constar como raça ignorada ou não informada. Então de 2000 casos eu tenho que excluir mais de 200, porque não tem lá especificando. Essa é a desvantagem de trabalhar com dados secundários, é uma limitação para o estudo”, finaliza.


Teste rápido e PrEP HIV

Hoje os testes para HIV têm resultado final em até 30 minutos, e é realizado através do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferece testes gratuitamente em Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).


Embora uma parcela da sociedade não saiba, atualmente novos métodos de tratamento contra o HIV estão disponíveis. O PrEP, Profilaxia Pré-Exposição ao HIV é o tratamento através de medicação anti-HIV, de forma programada, evitando uma infecção pelo HIV caso ocorra uma exposição. Esse método de prevenção ao HIV é disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).


Além do PrEP outro método também pode ser utilizado, o PEP, Profilaxia Pós-Exposição de Risco. Esse método é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções.

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